Em março de 2017 - uma boa lembrança de alguém que pensava e faz pensar.
Qual é a pior coisa que se pode fazer a um adulto
armado em bully? Fazer-lhe frente e ridicularizá-lo em público, sem margem para
ripostar, está certamente no topo da lista pedagógica (chamemos-lhe assim).
Esta semana, o Professor Stephen Hawking deu uma bela lição sobre igualdade de
género a Piers Morgan, o apresentador do programa Good Morning Britain que tem
sido alvo de duras críticas pelos seus consecutivos comentários sexistas. Desta
vez, o tiro saiu-lhe pela culatra.
Ridicularizar as mulheres – ou melhor, as pessoas -
que se assumem como feministas recorrendo a insultos como as expressões
“feminazis” ou “mulheres raivosas” tem sido a posição de Piers, que ainda no
início deste ano considerou a Marcha das Mulheres “um evento totalmente
absurdo”. Para vincar a sua opinião, decidiu gozar com aquela gigante
manifestação mundial pela igualdade de género, com mais de 100 tweets jocosos
partilhados ao longo do dia 21 de janeiro. Na recente conversa com Hawking,
Morgan decidiu puxar o tema alegando que, se olharmos para a ascensão política
feminina no Reino Unido (com Theresa May como primeira ministra do Reino Unido
e Nicola Sturgeon como primeira ministra da Escócia, por exemplo), finalmente
“estamos a ter provas científicas” relacionadas com a igualdade de capacidades
entre homens e mulheres. A resposta dada por Hawking a este comentário é tudo
de bom.
“Não é uma prova científica sobre a igualdade de
género que é necessária, mas sim a aceitação geral de que as mulheres são pelo
menos iguais aos homens, ou melhores que eles”. Clara, curta e concisa, esta
mensagem disse tudo. Contudo, o Professor foi ainda mais longe nesta verdadeira
lição de civismo dada a Morgan e a todos os que seguem a sua redutora linha de
pensamento. "Se considerarmos as mulheres de alta potência, como Angela
Merkel, parece que estamos a assistir a uma mudança sísmica para as mulheres
acederem a posições de alto nível na política e na sociedade", explicou
Stephen Hawking, aproveitando para reforçar o que muita gente continua a não
querer ver. “Mas ainda há um fosso grande entre aquelas mulheres que alcançam
um alto status público e aquelas no setor privado. Congratulo-me com estes
sinais de libertação das mulheres.”
“O
Professor é feminista?”. Resposta: “Sim”.
Particularmente quando entrevista mulheres, Piers
Morgan tem uma tendência clara para interrompê-las nas suas respostas quando o
tema é igualdade de direitos e de oportunidades entre géneros (espreitem por
exemplo os vídeos do programa feitos sobre a sessão fotográfica de Emma Waston
para a Vanity Fair ou a entrevista a Sophie Walker, líder do Women's Equality
Party). Mas com Stephen Hawking à frente, parece que lhe faltou o habitual à
vontade para interromper entrevistados ou ridicularizar o tema do feminismo. Em
tom de fim de tópico, ficou outra questão chave: “O Professor é feminista?”. E
a resposta: “Sim. Sempre apoiei os direitos das mulheres. Fui eu que mudei o
sistema de admissão de mulheres na minha faculdade, Gonville & Caius
College, Cambridge. Os resultados foram totalmente positivos.”
Em poucos segundos, Stephen Hawking deu uma lição a
todos os que não percebem a importância do feminismo ou que, por preguiça ou
ignorância, não entendem sequer o significado da palavra e o que ela defende.
Ser feminista não é querer a supremacia feminina sobre os homens. Não é uma
competição, nem tampouco uma apologia à redução de direitos do universo
masculino. É, sim, perceber que no mundo existe uma disparidade clara entre
homens e mulheres no que toca a direitos universais, a poder de decisão e a
acesso a oportunidades, por exemplo. É, como diria Stephen Hawking, aceitar de
uma vez por todas que não é o género com que nascemos que nos define enquanto
pessoas, seja nas nossas capacidades, seja nos nossos papéis em sociedade. E
que é urgente que esse fosso de igualdade entre homens e mulheres seja
reduzido. Porque uma sociedade mais par é uma sociedade mais justa, mais livre,
mais digna, mais equilibrada e, é claro, também mais competitiva. E todos –
todos! – temos a ganhar com isso.
Se tiverem um bocadinho espreitem a entrevista
completa. Desde a igualdade de género à presidência Trump, vale sempre a pena
ouvir o que Stephen Hawking tem para dizer sobre o estado do mundo.
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