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Anton Semenov
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Firmina
andava mal naquela manhã de primavera. De um lado a outro, passeava com seu
contaminado espírito. Não sabia em absoluto o diagnóstico do mal que a afligia.
Diziam
que respirara a fala de um moribundo e agora padecia de enigmática enfermidade.
No entanto, sentia-se melhor quando bebia romantismo alemão, mas os ingleses
também consolavam sua vida.
Alguém
recomendou qualquer leitura que abarcasse o existencialismo. Doses fortes,
todos os dias. Mas a louca já bebia da existência... De Profundis.
Nalguns
momentos, a mulher tentava escrever. Contudo, desaguar incoerências pelas
pontas dos dedos, não era lugar de queda - apesar do desejo.
Desabava,
isso sim, por horas, na leitura da vida de personagens com
alma - literatura, vício demoníaco, que abraçava seu corpo como um câncer. A
criatura também passava seus dias lembrando-se de pessoas, momentos vividos... .
Parecia
um fantasma, a vaguear ausência de coesão e excesso de denotação. Falando alto, chorando silêncios. Calando o que precisava ser dito. Pensando nas palavras ouvidas, ou omitidas - sintomas de
um peito corrompido, uma mente doente.
Tresloucada
Firmina, pensava que a finitude era a dor mais poderosa. Pobre criatura, a viver
no inferno nostálgico da existência. Desejando o impossível. Sentindo paixões
nunca correspondidas. Insistindo num caminho de frustrações...
Escrava
do crepúsculo, maldição!