A filosofia, enquanto
busca pela verdade, é um conhecimento que promove a autonomia do sujeito. Uma
possibilidade de entendimento capaz de nos fazer enxergar e interpretar o mundo
para além das verdades imediatas, fazendo-nos questionar o que nos é apresentado
e, deste modo, romper com uma visão dogmatizada, passiva - sendo, também,
diante de questões complexas, uma rejeição às respostas simplistas.
Segundo Sílvio Gallo
[1], a filosofia tem uma caracterização triádica. A saber: “trata-se de um
pensamento conceitual, apresenta um caráter dialógico e possibilita uma postura
de crítica radical”. Portanto, de acordo com essa tríade, primeiramente
a filosofia forma conceitos. Esse aspecto peculiar também nos é apresentado por
Deleuze e Guattari [2]: “Filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar
conceitos”. Com isto, podemos afirmar que faz parte da atividade filosófica
expor as interpretações do mundo a partir de uma conceituação daquilo que se
quer explicar. Em segundo lugar, a dialogicidade. Ou seja, a permanente
atividade dialética, que tem por consequência o debate das ideias, que afasta o
dogmatismo. Por último, é próprio da praxe filosófica, a crítica radical, fundamentada no questionamento - podemos entender radical, como uma forma sistemática de investigação, que leva em conta a importância de procurar as razões substanciais
daquilo que se pretende demonstrar. Sendo assim, a indagação é uma ação inseparável da postura filosófica - sem perguntas, não há possibilidade de um
pensamento autenticamente filosófico.
De acordo com Antônio
Joaquim Severino [3], a reflexão filosófica é uma insistente busca de
significado para a existência. Além disso, ao estudarmos o pensamento
filosófico dos mais diversos pensadores e pensadoras, de épocas e lugares
distintos, somos levados a ampliar a nossa visão de mundo e, ainda,
tornamo-nos mais habilidosos para enfrentar os dilemas vividos em nosso próprio
tempo histórico. Seja do ponto de vista individual, ou numa perspectiva
coletiva. Afinal, a vida na pólis não
faz parte de uma escolha, do ponto de vista do postulado aristotélico, é intrínseca por natureza. À vista disso, a filosofia nos habilita a viver em
sociedade e a contribuir para que esta experiência comunitária seja o mais
benéfica para todos - importante considerar que a compreensão do que aqui se
apresenta como filosofia é, apesar de controvertível, um conhecimento de
fundamento ético, preceptora de cidadania. Porém, reconhecemos que a filosofia não é, sozinha,
responsável pela formação cidadã. E sim, despretensiosamente, apenas um contributo.
Por consequência, é
obrigação do Estado oferecer uma educação formal que tem como base um
conhecimento que pode promover a formação de cidadãos capazes de intervir de
modo competente para a resolução de problemas. Destarte, pensar a
educação, de modo amplo e comprometido, atende a uma visão platônica da
formação filosófica. Em que o filósofo, no livro A República, é
descrito enquanto o prisioneiro que não aceita o que lhe é cotidianamente
exposto. Portanto, o filósofo é aquele que desconfia da realidade
imediata e busca a verdade – que nem sempre é de fácil acesso. Para isso, é
preciso que tenhamos uma educação capaz de viabilizar a busca autônoma e
criteriosa de conhecimentos que possam, de fato, condizer com legitimidade e eficiência. Num panorama conjuntural, de descrédito tanto da filosofia quanto do seu ensino, é necessário pensarmos sobre este assunto. Inclusive, como forma de apresentar a importância do debate numa época de supervalorização do tecnicismo, em que se faz uso de um discurso com viés pragmático para o enfrentamento dos problemas sociais.
Isto posto, é preciso
admitir a necessidade de um ensino sistemático e criterioso, vinculado a valores políticos e democráticos, com uma postura crítica e livre de
pensamentos predeterminados. Deste modo, o ensino da filosofia tem um papel
fundamental na formação crítica, seja em que idade for. Ainda mais no momento
histórico em que vivemos, com a desvalorização do posicionamento intelectual,
sistematizado e metódico de interpretação dos acontecimentos. Algo que deveria, em variados aspectos, servir para apresentação de resolução de problemas.
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[1] Cf. GALLO, Sílvio. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas: Papirus, 2012. (p.54).
[2] Cf. DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. O que é filosofia? 3 ed. Trad. Bento Prado Jr. São Paulo: Editora 34, 2010. (p. 08).
[3] Cf SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, sujeito e história. 3 ed. São Paulo: Olho d’água, 2012. (p. 41).
[2] Cf. DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. O que é filosofia? 3 ed. Trad. Bento Prado Jr. São Paulo: Editora 34, 2010. (p. 08).
[3] Cf SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, sujeito e história. 3 ed. São Paulo: Olho d’água, 2012. (p. 41).