Filosofia e
literatura. O problema moral no «Grande Sertão: Veredas»
Álvaro Martins
Andrade
"Mas liberdade -
aposto - ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de
grandes prisões. Tem uma verdade que se carece de aprender, do encoberto,e que
ninguém não ensina: o beco para a liberdade se fazer." (GSV, 290)(1).
"A liberdade é
assim, movimentação." (GSV, 303).
"ROSA: Sim, fui médico,
rebelde, soldado. Foram etapas importantes da minha vida, e, em rigor, a
seqüência representa um paradoxo. Como médico, conheci o valor místico do
sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como soldado, o valor da
proximidade da morte...
LORENZ: Deve-se entender isso
como uma escala de valores?
ROSA: Exato, é uma escala
de valores.
LORENZ: E não são esses três
conhecimentos, no fundo, a espinha dorsal do romance "Grande Sertão"?
ROSA: São, mas somam-se
ainda outros, sobre os quais nós temos ainda de falar também."(2)
"O inconsciente
é capaz, por momentos, de manifestar mais inteligência e finalidade do que não
o é a introspecção consciente." Jung(4) A exemplo de toda a
travesia do Riobaldo - ou de toda filosofia - a gênese do pensamento moral de
Guimarães Rosa se dá segundo um processo que comporta etapas prévias e
necessárias. Com efeito, encontra-se no Grande Sertão: Veredas se
não uma sistemática 'filosofia das ciências", pelo menos um narrador que
reflete sobre o conhecimento do seu mundo e do teu tempo, a ponto de já poder
"formular" a "hipótese" (ou "tese"?):
"Ao que, este
mundo é muito misturado..." (GSV, 210, grifo
nosso)
Embora o problema de
uma filosofia das ciências no Grande Sertão: Veredas não
esteja compreendido na presente análise, ainda assim é necessário assinalar -
para os efeito da análise posterior - que o narrador tem uma síntese coerente
de conhecimentos sobre o universo e o homem. Mesmo sem se poder falar ainda e
rigorosamente defilosofia, trata-se de uma indagação preliminar que
estabelece efetivamente certos referenciais fixos neste
"mundo movente" - para usar a feliz expressão de José Carlos
Garbuglio(5). Encontramos em
seguida uma metafísica - no sentido de uma complementação,
seguramente sempre hipotética, do fragmentário quadro de conhecimentos sobre o
mundo e o homem. "Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se
dispõe para a gente é no meio da travessia." (GSV, 62-63). Por isso,
seguramente, "o real roda e põe adiante." (GSV, 133) Sem pretender
ser superior à "ciência" representada pelo seu interlocutor
silencioso, a "metafísica" do narrador ou do compadre meu Quelemém
ainda assim visa sempre preencher de maneira "razoável" as
persistentes lacunas do conhecimento "científico":
"A razão normal
de coisa nenhuma não é verdadeira, não maneja." (GSV, 334),
diz o narrador, talvez
melhor esclarecendo suas curiosas referência e descrição do compadre Quelemém,
o qual "quer saber tudo diverso: quer
não é o caso inteirado em si, mas a sobre-coisa, a outra coisa." (GSV,
189, grifos nossos)
Da mesma forma que
para o seu autor(6), também para o narrador o
ético e o metafísico são inextrincavelmente interdependentes. A partir dos dois
conceitos que este sábio ex-jagunço mais elabora - destino e liberdade -
ocuparnos-emos agora do ético e do metafísico, com vistas à determinação do
conceito que (embora não referido nominalmente pelo narrador) a nosso ver
informa toda a sua ação e pensamento: o finalismo inerente à
existência humana, o quantum de necessidade que define o
sentido comum, invariável e universal dos mitos do herói.
A idéia de um finalismo
inerente à substância já se encontra presente no sistema aristotélico:
na passagem da potência para o ato, da forma para a matéria, quando o dynamós realiza as
melhores potencialidades, já é com afinalidade de realizar
"o melhor dos mundos possíveis." Negada pelo Pascal cartesiano
("As flores e os passarinhos não demonstram"), esta orientação ou
finalidade interior ao dynamós e à substância, realizando-se
continuamente pela transformação (que desta forma supõe o tempo) implicará
assim na irreversibilidade, com todas as suas conseqüências
que, no caso do narrador, serão de ordem sobretudo ética porque também
psicológicas. "A partir de um certo ponto, não há mais retorno.
Esse é o ponto que se precisa atingir" - já o sabia o Kafka das Considerações
sobre o pecado, a dor, a esperança e o verdadeiro caminho. Nosso
narrador vai mais longe: associa e coloca este 'ponto" crítico
("ponto de marca") no interior do finalismo ("Tudo tinha
me torcido para um rumo só") - e portanto inerente a este,
verdadeira finalidade no interior da necessidade:
"Tem um
ponto de marca, que dele não se pode mais voltar para trás.
Tudo tinha me torcido para um rumo só, minha coragem
regulada somente para diante, somente para diante." (GSV
203, grifos nossos).
Acreditamos ter
deixado suficientemente claro, em outras análises dedicadas especificamente ao
problema(7), que o "rumo só"
para o qual está "minha coragem regulada" é o rumo do inconsciente, o
do mergulho nas imagens primordiais do mito pessoal. "Tendo atravessado o
Rubicão, seria impossível voltar atrás", diz Jung valendo-setambém das
(no caso) indispensáveis metáforas.(8)
Reconhecemos que a
insistência com que o narrador - direta ou indiretamente - refere o destino, autorizaria
pensar em uma concepção de homem de tipo determinista ou fatalista. Observe-se,
contudo, que não só o próprio conceito quanto suas variantes são sempre
utilizadas de maneira ambígua, de maneira tal que se tem desde suacategórica
afirmação até sua radical negação, passando por
outros usos metafóricos e poéticos que permitirão determinar seu verdadeiro
valor significativo. Associados a outras "falas", tais usos
possibilitam determinar seusentido original. No primeiro caso
(acepção ingênua e determinista), tem-se o narrador se referindo à adivinha Ana
Duzuza, mãe de Nhorinhá:
"No momento, foi
que eu caí em mim, que podia ter perguntado à Ana Duzuza alguma passagem de
minha sina por vir. (...) E se a Duzuza adivinhasse mesmo,
conhecesse por detrás o pano do destino?"(GSV, 35, grifos
nossos)
Com a mesma acepção
(embora sem referí-lo), reaparece na estória de Davidão e Faustino, na qual,
como após o pacto entre ambos nenhum dos dois morre, o narrador diz que
"Para nenhum deles tinha chegado a hora-e-dia"(GSV, 81,
grifos nossos) Ou, ainda, referindo-se a Fancho-Bode e Fulorêncio, que
"Morreram, porque era seu dia,deles, de boa questão."
(GSV, 154, grifo nosso) Entretanto, descrevendo os momentos que precederam ao
pacto, o narrador já fala d'"o alto destino possível da
gente" (GSV, 381, grifo nosso), introduzindo assim a primeira"variação" que,
por si mesma, negaria a noção estrita de um
"destino" enquanto determinismo, pre-determinismo ou
fatalismo. A menos que se conceba a paradoxal duplicidade do destino - um
"alto" e outro "baixo". O "possível", aqui, já
abre necessariamente para uma concepção de liberdade que, se não nega a
necessidade do determinismo estrito, a relativiza em finalismo. Ou,
se é possível dizê-lo - a liberdade no interior da necessidade se traduz em
permanente atualidade livre:
"E o que era
para ser. O que é pra ser - são as palavras."
(GSV, 47, grifos nossos) Esta
"relativização" do destino é nitidamente sugerida pelo narrador ao se
perguntar se "Deveras se vê
que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?" (GSV,
106, grifos nossos), pois na realidade ele
também conhece e admite o que chama de "acaso" e sua importância:
"Ao que, digo ao
senhor, pergunto: em sua vida é assim? Na minha, agora é que vejo, as coisas
importantes, todas, em caso curto de acaso foi que se
conseguiram - pelo pulo fino de sem ver se dar - a sorte momenteira, por cabelo
por um fio, um clim de clina de cavalo. Ah, e se não fosse, cada acaso não
tivesse sido, qual é então que teria sido o meu destino seguinte? Coisa vã, que
não conforma respostas. Às vezes essa idéia me põe susto." (GSV, 120-121,
grifos nossos) Se o determinismo
estrito ("destino") é assim limitado e relativizado pelo narrador, a
tal ponto este já se represeenta claramente sua concepção d'"essa
idéia", que chega ao extremo cuidado de relativizar também o
oposto - isto é, a "liberdade de escolha" - antecipando de
quase quatrocentas páginas o conceito-chave de sua concepção da existência
humana ("Cumpro." - GSV, 571):
"Quem que diz que na vida tudo se escolhe? O que castiga, cumpre também."
(GSV, 205, grifos nossos) O problema que se
coloca, portanto, seja para o narrador, seja para nós, é o seguinte: o destino
do homem é problema de Deus, ou do próprio homem? Ao nível da narrativa dos
"fatos", o artifício utilizado para elaborar o tema será o mesmo
utilizado pelo Goethe do Fausto: a aposta, o pacto (Fausto será perdido?
Fausto se perderá?). Ora, em relação ao "Deus" do
narrador, se é verdade que ele "quer" alguma coisa em relação ao
homem, é preciso reconhecer que não somente se trata de um objetivo bastante
simples e "saudável" (a "alegria"), como também será
necessário reconhecer que este mesmo "Deus" "respeita" a liberdade
do homem ("na horinha em que se quer"):
"O que
Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais,
no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de
repente, na horinha em que se quer, de propósito - por
coragem." (GSV, 301, grifos nossos)
Além do já verifcado
em relação a esse Deus do narrador como categoria antropológica e imagem do
centro ou Si(9) seu
"parentesco" com o diabo, esta humanidade liberal de um Deus que
assim respeita a liberdade humanaverifica-se ainda pela conseqüente
solidariedade e responsabilidade que decorreria do próprio
"pacto": "Se vendo minha
alma, estou vendendo também a dos outros." (GSV, 294, grifo
nosso). Mas não nos iludamos,
não se trata de um existencialista a repetir os lugares-comuns sartrianos. Já
vimos que, na realidade, enquanto o narrador "brinca" com diferentes
jargões filosóficos ou pseudo-filosóficos, simultaneamente
"dialetiza" entre os sistemas originários destas linguagens, em
busca de sua síntese pessoal. Observe-se que, de tomar ou interpretar
isoladamente algumas falas "sentenciosas" do narrador, sem
previamente estabelecer seu contexto subjetivo e o global de seu universo,
poder-se-ia em conseqüência "definir" sucessivamente seu
"pensamento" não apenas como
"existencialista"(10), mas também
"spinosano", "kantiano" e outros mais.
Com efeito, descrevendo
a entrada no sertão de Minas, na perseguição final ao Hermógenes, ao mesmo
tempo que reafirma a já apontada irreversibilidade da específica
"travessia" que está realizando (a do inconsciente para o
consciência), o narrador "se revelaria" também como um
"spinosano":
'Dali de lá, eu podia
voltar, não podia? Ou será que não podia, não? Bambas asas, me não sei. Bambas
asas... Sei ou o senhor sabe? Lei é asada é para as estrelas. Quem sabe, tudo o que
já está escritotem constante reforma - mas que a
gente não sabe em que rumo está - em bem ou mal, todo-o-tempo
reformando?" (GSV, 510, grifos nossos) Se é verdade que
"a ilusão da liberdade vem da consciência de nossa ação e
da ignorância das causas que nos fazem agir(11), o narrador seria realmente
um "spinosano" ("tudo... está escrito... a gente não
sabe...");entretanto observe-se: "tudo o que já está escrito tem
constante reforma": a liberdade não é uma "ilusão" nem
o narrador um "spinosano".
Tem sido esse mesmo
tipo de análise (sem levar em conta o contexto subjetivo e global de um
narrador que "brinca" com as linguagens dos "sistemas"
filosóficos) o que, a nosso ver, tem ocasionado, na crítica rosiana até aqui
publicada, a aproximação mais freqüente das "idéias filosóficas" do
narrador com as assim chamadas "vertentes existencialistas". E,
realmente, se adotado o critério fácil da simples justaposição, pode-se de fato
"provar" por tal meio que o narrador é um
"sartriano". Se não, vejamos: discutindo o problema da liberdade em
Descartes, Sartre observa que "ele compreendeu, melhor que ninguém, que a
menor démarche do pensamento engaja todo o pensamento, um
pensamento autônomo que se põe, em cada um de seus atos, em
sua independência plena e absoluta."(12) Se assim é - e com a
mesma facilidade de critério das simples aproximações - nosso narrador seria
"sartriano" quando diz que "Ações? O que eu
vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada." (GSV,
170, grifos nossos), hipótese que
imediatamente se "verificaria" pela afirmação de que "A liberdade é
assim, movimentação" (GSV, 303, grifos nossos). Entretanto, não
esqueçamos que para o narrador, a liberdade é essencialmente uma libertação: libertação
das trevas do "não-saber" (GSV, 96, 97, 133, 272,
294), do seu "sertão" (GSV, 149, 270, 271,
274, 334, 354, 409,432, 466, 486-487,
490, 491, 501, 510, 540, 560), enfim,
libertação em relação ao seu inconsciente. "Sujeição epossessão são sinônimos. Esta
a razão pela qual há sempre algo na alma que toma a dianteira,
limita ou põe em xeque a liberdade moral"(13). E não esqueçamos que, se
Diadorim é o grande "personagem" deste inconsciente, na fase inicial
e caótica do herói "As vontades de minha pessoa estavam entregues a
Diadorim." (GSV, 37) Não obstante, "enquanto ser natural,
simpelsmente criado ou emerso de pre-condições inconscientes, o
homem não tem nenhuma liberdade e a consciência não tem
nenhuma 'razão de ser'. O julgamento psicológico deve ter em conta que, em
virtude do fato de que a despeito de toda sua intrincação causal, o homem
possui um sentimento de liberdade que se confunde com
a autonomia da consciência. Embora todas as coisas, tomadas
uma a uma, provem ao Eu que ele é dependente e condicionado, não
se pode entretanto persuadí-lo de sua escravidão."(14)Convenhamos que, tomada passo
a passo a evolução do jagunço Riobaldo ao Chefe Urutú
Branco e, finalmente, aonarrador-enquanto-narrador ("hoje",
"agora"), não se confundem a falta de "razão de
ser" inicial do primeiro (GSV, 11, 272 etc.), o "sentimento de
liberdade que se confunde com a autonomia da
consciência" do segundo (GSV, 437, 527 etc.) e a liberdade-libertação de
que goza o terceiro e último: "Agora, paz." (GSV, 432) Pensada assim,
como árdua e penosa libertação do "dentro do ferro de
grandes prisões" do inconsciente, comprende-se então quetambém a
"verdade" da liberdade tenha de ser aprendida nesta
solitária conquista a partir do "encoberto": "Vento que vem
de toda parte. Dando no meu corpo, aquele ar me falou em grito de liberdade.
Masliberdade - aposto - ainda é só alegria de um
pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Tem uma
verdade que se carece de aprender, do encoberto, e que ninguém
não ensina: o beco para a liberdade se fazer." (GSV,
290, grifos nossos) Avessas a todo o
"racional" e "intelectual", a ética e mesmo a metafísica do
narrador e seu autor serão sempre fundadas no vivido, numa
concepção geral do universo e do homem simultaneamente
"experimentada" e verbalizada ao longo da narrativa. Procuremos
assim, agora, determinar a forma e as conseqüências práticas que -para a
ação - tem esta concepção ético-metafísica do homem e do universo.
O que estamos
chamando de "metafísica", no Grande Sertão: Veredas é
o conjunto de proposições "sentenciosas" e "textos
teóricos"(15) que - transcendendo as
aparentes "contradições" e "ambigüidades" - apresenta
verdadeirahomogeneidade entre si, completando assim as poucas
certezas "racionais" do narrador e lhe permitindo resolver os
problemas e desafios que lhe colocam sua existência e o mundo: o que é o sertão, o
que é viver. Observe-se que as progressivas falas e respostas que
definem especialmente a "metafísica" do narrador, também aí se dão
segundo as possibilidades de toda e qualquer metafísica. Isto é, todas as suas
proposições que configuram um "sistema" se conformam segundo a adoção
de uma crença radical, prévia e organizadora - mais de Guimarães Rosa que de
Riobaldo - e que funciona como postulado fundante da metafísica em questão.
Ora, tais possibilidades geradoras das metafísicas - sem pre referidas à
"Ordem" ou à idéia de uma ordem - dão-se
invariavelmente na raiz de toda e qualquer metafísica sob uma das três
alternativas: há uma Ordem no universo; não existe Ordem alguma no universo;
ou: uma ordem se ela* hora progressivamente. A adoção da
terceira destas três alternativas encontra-se na raiz de toda a reflexão moral
do narrador: uma ordem, um mundo e um homem in fieri, fazendo-se, em
processo.
Muitas vezes o
narrador faz pensar que Guimarães Rosa teria platonicamente optado pela afirmação
de uma Ordem. Mas com o simples fato de fazer pensar o
narrador, Guimarães Rosa revela estar muito mais próximo da terceira
alternativa: toda Ordem é construção e elaboração progressiva: "Gosto de
achar que tudo evolui e avançanecessariamente
bem."(16) A própria adoção desta
alternativa já é de certa forma uma "inclinação" inicial,absolutamente
indemonstrável e provavelmente de natureza afetiva, semelhante,
talvez, à que faz com que alguns de nós gostemos mais de Riobaldo, outros de
Diadorim. Afinal, "A gente sabe mais de um homem, é o que ele
esconde." (GSV, 319)
É esta inclinação ou
opção pela Ordem in fieri, pelo movimento,
transformação orientada e pela metamorfose do
processo que, a nosso ver, constitui a verdadeira opção de Riobaldo-Rosa. Desta
forma resulta ainda um tanto arbitrário quando dizemos que o pensamento moral
de Riobaldo é o resultado ou conseqüência de uma elaboração metafísica anterior; na
realidade, no caso deste narrador porta-voz de seu autor, o ético está na
origem do "metafísico"ambos inextrincavelmente ligados ao
psicológico. Neste sentido se pode dizer indiferentemente que oGrande
Sertão: Veredas está construído de trás para diante ou de diante para
trás: quando, encerrando sua "estória", o narrador diz que "No que narrei,
o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade" (GSV,
564, grifo nosso) é porque efetivamente
ele já tem essa "verdade", sabe que só é possível
construir uma "metafísica" coerente a partir não de
uma "razão normal de coisa nenhuma" - que "não
é verdadeira, não maneja" (GSV, 334), mas sim a partir da "Verdade
maior", essa "que a vida me ensinou."
(GSV, 24, grifsos nossos). Mais precisamente ainda, a ética do narrador se
constitui precisamente na elaboração desta intuição afetiva e
anterior a qualquer construção lógico-filosófica, elaboração que assim se
fazendo no modo da ingenuidade fenomenológica,
ao nível da expressãose dará na forma da ambigüidade. Em
última instância, o que o narrador procura (e procura definir) é
o objeto mesmo de toda a filosofia - o sentido ou não-sentido do universo,
desse viver que "nem não é muito perigoso" (GSV, 35), o sentido de
sua própria existência. É esta "intuição", "visão" ou modo
de sentir o mundo que, se ao nível do poético resulta
na criação visionária, ao nível do ético já é de natureza "moral": desenvolvendo-se,
realizando-se e objetivando-se no processo, toma forma e consciência
de si mesma através da reflexão que prova,organizando-se
finalmente em discurso e pensamento moral. Resultados de um engajamento do
coração e do sentimento, ética e metafísica rosianas se dão assim em um
só movimento; somente para efeito de análise se pode considerá-las
separadamente.
* * *
ENGAJAMENTO DO
SENTIMENTO E ENGAJAMENTO DA VONTADE
"Eu queria minha
vida própria, por meu querer governada." (GSV, 335)
"Quem me
entende? O que eu queira. Os fatos passados obedecem à gente; os em vir, também.
Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual - e é o que é.
Isto, já aprendi." (GSV, 324-325)
Graças a um artigo de
Karl Krolow tem-se por definitivamente assentado que toda a obra de Guimarães
Rosa - e por consequência também seu pensamento - se
constituem em um engajamento do coração, ou um engajamento
do sentimento.(17) O próprio autor, aliás,
jamais negou ou objetou qualquer coisa a respeito. Entretanto, por suas
consequências e significação para a determinação do que chamamos um
pensamento brasileiro, urge retomar esta afirmação e verificar em que
medida a mesma é verdadeira - mas não toda a verdade. Isto só é possível de ser
feito a partir sobretudo do próprio texto.
Tomado o Grande
Sertão: Veredas como dimensão maior da realização do mito pessoal do
homem e artista João Guimarães Rosa, embora sua vida pessoal e seus depoimentos
devam contar, são ainda seus textos a sua maiorobjetivação.
Com efeito, a maior
parte dos valores afirmados na obra são de natureza e origem sentimental: bondade,
alegria, coragem etc.:
"- 'Não sabe que
quem é mesmo inteirado valente, no coração, esse também não pode deixar de ser
bom?!" (fala de Diadorim - GSV, 143)
"O vau do mundo
é a alegria!" (GSV, 288)
"- 'Vau do mundo
é a coragem ...' - eu disse." (GSV, 289)
"Mas eu hoje em
dia acho que Deus é alegria e coragem - que Êle é bondade adiante, quero
dizer." (GSV, 296)
Entretanto, na medida
em que tais valores têm de ser vividos ("Deus é bondade adiante"), os
mesmos sãoinstaurados pelo homem na ação - e não
transcendentes ou abstratos. Não obstante, é preciso ter-se em conta que tais
valores, em que pese sua incidência e afirmação ao longo de toda a obra
rosiana, expressam, no fundo,um modo particular de ser (sentimental,
emocional etc) , e que embora postos e elevados à dignidade de valoresmorais,
se se pensa a moral na sua relação com a prática de uma ação,
dificilmente poderiam caracterizar uma ética. Impõe-se aqui, portanto,
o problema dos tipos: não se pode definir como virtudes a
alegria de um extrovertido ou a reserva do introvertido; da mesma forma, não se
pode falar de "valor" em relação ao sentimentoenquanto
função superior do tipo-sentimento, assim como tampouco o é,
moralmente, a superior "inteligência" do tipo-pensamento. Vista da
perspectiva contrária, é a mesma situação pela qual, jurídica e moralmente, o
louco ou débil mental não são considerados responsáveis pelo crime que cometem,
ou ainda, da perspectiva religiosa, seu crime não é considerado
"falta" ou "pecado". Só há virtude ou não-virtude ali onde
se empenham (ou deixam de se empenhar) a vontade, a consciência e a liberdade
individuais. Contra o comportamentismo, ainda é possível
afirmar que o meio inclina, mas não obriga.
Neste sentido, a
nosso ver, aquilo que Krolow chama o engajamento do coração ou
do sentimento na obra rosiana, é precisamente aquilo que esta
tem de mais pessoal: seja no sentido de uma auto-biografia
sincera, seja - eventualmente - no sentido de uma compensação do exatamente
oposto. "O artista é um fingidor.. - já o sabia Fernando Pessoa. Não
estamos afirmando tal hipótese, mas apenas mostrando a
necessidade de se tê-la em conta, em decorrência mesmo do fato de estarmos
diante de uma obra que, se nos apresenta um tipo, ao mesmo
tempo é obra de um artista.
Se, contrariamente,
por valores genuinamente morais entendermos aqueles que dizem
respeito à ação e suas conseqüências, aqui, sim, poder-se-á
falar de uma ética rosiana - esta porém de tipo muito mais voluntarista que
sentimental. De início, refaçamos a "teoria dos valores" do narrador:
"Também, o que é
que vale e o que é que não vale? Tudo." (GSV, 138)
A extensão absoluta
do conceito ("Tudo") é não obstante mais circunscrita pelo próprio
narrador, ao dizer que
"O que
vale são outras coisas." (GSV, 95, grifos nossos)
Por sua vez, esta
circunscrição do axiológico é logo novamente mais precisada - embora ampliada
na ambigüidade de sua formulação:
"Mas, para mim,
o que vale é o que está por baixo ou por cima - o que parece
longe e está perto, ou o que está perto e parece longe." (GSV, 217, grifos
nossos)
Fazendo intervir o
simbolismo da orientação espacial ("em pé" = vertical = consciente)
mais um pouco se precisa esta "ambigüidade" quando o narrador declara
que
"Só o que a
gente pode pensar em pé - isso é que vale." (GSV, 276,
grifos nossos).
Se parecemos nos
aproximar de uma ética do tipo rácionalista e inoperante ("Só o que... pensar em
pé - é que vale"), por outro lado a ação e a proversividade se
impõem:
"Não sabia, hoje
será que sei, a regra de nenhum meio-têrmo. Sem ação, eu
podia gastar ali minha vida inteira, debulhando." (GSV,
83, grifos nossos)
"Tudo tinha me
torcido para um rumo só, minha coragem regulada somente para diante,
somente para diante." (GSV, 203, grifos nossos)
Entretanto,
levando-se em conta o contexto ou experiência específicos a que se refere o
narrador - a subjetividade em processo do seu mito pessoal em realização,
travessia do "sertão"-inconsciente para a "cidade" da
consciência-centro atingido - esta "ação", ao mesmo tempo que assume nova
dimensão moral - condição da autonomia - retorna também
ao seu sentido primeiro, mitológico e psicológico.
* * *
DA HETERONOMIA À
AUTONOMIA: SENTIDO E VALOR DA TRAVESSIA
"Afirmo ao
senhor, do que vivi: o mais difícil não é um ser bom e
proceder honesto; dificultoso, mesmo, é um saber definido o que quer, e ter
o poder de ir até no rabo da palavra." (GSV, 166, grifos nossos)
Ora, "ser
bom" e "proceder honesto" apresenta, em relação à
consciência individual, um duplo aspecto em que os termos finalmente se
invertem: em primeiro lugar, na medida em que têm sua origem na
cultura, representampara a consciência individual, tanto o coletivo como
o exterior: a heteronomia, pois; em segundo lugar, na
medida mesma em que coletivos e exteriores, para a consciência que
recebe tais valores como imposição externa (e não conquista
interior), tais valores resultam, finalmente e à maneira do superego freudiano, inconscientes. O
que é "dificultoso", pois, é a passagem da heteronomia
coletivo-multiplicidade-inconsciente para a autonomia unidade-consciência. Não
esquecer o
"conselho que Zé
Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir
às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca não se deve de tolerar de ter.
Porque, quando se curte raiva de alguém é a mesma coisa que se autorizar que
essa própria pessoa passe durante o tempogovernando a idéia e o
sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta
bobice, e fato é." (GSV, 225, grifos nossos)
Através do universo
de partes mei in aliis personalizadas por via de projeção,
continuamente re-verificamos que o ético, para o narrador, está mais
estreitamente vinculado ao psicológico do que fariam parecer suas
falas tomadasisoladamente. Assim é que melhor se comprende quando o
narrador diz que "Eu queria minha vida própria, por meu querer
governada" (GSV, 335, grifos nossos), ou quando, se valendo das
imagens extremas para o centro (ou eu profundo, ou si mesmo) e para a sombra (o
reprimido, ou negativo), já Chefe - mas não narrador
ainda,"pensa":
"- 'Não sou do
demo e não sou de Deus!' - pensei bruto, que nem se
exclamasse." (GSV, 465, grifos nossos)
Afinal o
"governo" que definirá a autonomia moral, será (ou
não) exercido em relação a um "estado" chamado "sertão":
"O sertão não
tem janelas nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o
sertão, ou osertão maldito vos governa..." (GSV, 466, grifos
nossos)
Desta forma, as
relações de ordem moral que o narrador estabelece entre os domínios do sentimento e
da vontadetrazem-nos de volta às constatações anteriormente
apontadas: o sentimento é um dado, fato da subjetividade que
decorre do tipo psicológico; prima matéria, deverá ser elaborado pela
vontade para, qualitativamentetransformado, assim ascender
à eminência de "valor". Neste sentido e para tal objetivo - a
vontade (seu uso e exercício a partir da liberdade) é
"anterior" e "superior" ao sentimento em questão. Esse
esquema de relações, embora constante em todo o conjunto da obra rosiana,
encontra sua mais clara formulação na Secção IV do quarto prefácio de Tutaméia
("Sobre a escova e a dúvida"). Introduzindo um equivalente do
compadre meu Quelemém, ao qual (não por acaso) chama "o meu guru
Weridião"(18) assim se encontra condensada a
concepção moral do homem rosiano:
"Suspeito nem
sequer minhas vontades profundas. Sob a palavra de Weridião, somos
os humanosseres incompletos, por não dominados ainda à
vontade os sentimentos e pensamentos. E precisaria, cada um, para
simultaneidade no sentir e pensar, de vários cérebros e corações. Quem sabe,
temos?Sem amor, eu é que sou um Sísifo sem
gravidade."(19)
Ainda aqui coerente
com Jung - ao diferenciar "os sentimentos" do amor como uma
forma do sentimento - ainda aqui encontramos "os humanos seres incompletos" definidos
a partir do herói (Sísifo). Para efeito de verificação da
hipótese de um voluntarismo moral que, se não sobrepuja o
"engajamento do sentimento", teria como este o mesmo significado
ético final, seja-nos permitido adotar, neste domínio, as convenções
gráfico-espaciais da formalização matemática, e assim "deduzir" em
"fórmula" aquela que se revela a forma da ética
rosiana:
Assim é que,
escapando continuamente de todo abstrato e puramente intelectual, a ética do
narrador assume a concretude espessa e humana do psicológico vivido como
um
"trabalho de segurar a alma e endurecer as
mãos." (GSV, 180, grifos nossos)
Nem absoluta
liberdade ou livre arbítrio absoluto, nem destino estrito, fatalismo ou
determinismo, se não se pode falar de uma autonomia da moral no
pensamento rosiano, necessário é reconhecer-lhe a precisa formulação de
uma moral da autonomia. Profundamente humana, porque fundada
no que de mais profundo tem o homem; profundamente naturalista, porque fundada
no imediato do psicológico; profundamente realista, porque expressa pelo irreal
do mito; profundamente concreta, porque tarefa de todos nós. Qualquer análise
desta ética, sem qualquer juízo de valor, seria um non-sense. Mais
que qualquer síntese, porém,
"Estou dando
batalha." (GSV, 296)
E mais sintético
ainda, o narrador tudo diz ao dizê-lo em uma única palavra:
"Cumpro."
(GSV, 571)
(1) Todas as citações do Grande Sertão:
Veredas são feitas sobre a 2ª. edição - que é a definitiva.
(2) in LORENZ, Günter - Literatura Deve Ser Vida. Um Diálogo de Günter W. Lorenz com João Guimarães Rosa.Trad. Jehovanira Füchtner e Chrysóstomo de Sousa, do livro Dialog mit Lateinamerika. Panorama einer Literatur Zukunft - Tübingen, Horst Erdman, 1970. Puhl, in Exposição do Novo Livro Alemão - 1971, org. "Austellungs-und Messe-GmbH Börsenvereins des Buchhandels" em col. Institutos Culturais Brasileiro-Alemães. Págs. 272-273.
(3) Carta a Dora Ferreira da Silva, de 19.2.1958, in Cavalo Azul, S. Paulo, 3 :33, s.d.
(2) in LORENZ, Günter - Literatura Deve Ser Vida. Um Diálogo de Günter W. Lorenz com João Guimarães Rosa.Trad. Jehovanira Füchtner e Chrysóstomo de Sousa, do livro Dialog mit Lateinamerika. Panorama einer Literatur Zukunft - Tübingen, Horst Erdman, 1970. Puhl, in Exposição do Novo Livro Alemão - 1971, org. "Austellungs-und Messe-GmbH Börsenvereins des Buchhandels" em col. Institutos Culturais Brasileiro-Alemães. Págs. 272-273.
(3) Carta a Dora Ferreira da Silva, de 19.2.1958, in Cavalo Azul, S. Paulo, 3 :33, s.d.
(4) JUNG, Carl Gustav - Psychologie et
Religion - Trad. Marthe Bernson e Gilbert Cahen, Paris,
Buchet/Chastel, 1958, p. 80.
(5) O Mundo Movente de Guimarães Rosa. São
Paulo, Ed. Ática, 1972.
(6) Cf. Literatura Deve Ser Vida -
entrevista a Günter Lorenz, op. cit., passim.
(7) "O Sertão é o inconsciente", "O sonho e o mito: universo e linguagem", "Matéria e matéria vertente no Grande Sertão" - in Revista de Letras, Vol . 16, 1974.
(7) "O Sertão é o inconsciente", "O sonho e o mito: universo e linguagem", "Matéria e matéria vertente no Grande Sertão" - in Revista de Letras, Vol . 16, 1974.
(8) JUNG, CG. - Psychologie et Alchimie, Trad.
Dr. Roland Cahen e Henry Pernet, Paris, Buchet/Chastel, 1970, p. 161.
(9) Cf. ANDRADE, Álvaro Martins - "Matéria e
Matéria Vertente no Grande Sertão", Revista de Letras da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, Vol . 16, 1974.
(10) Como já tem efetivamente ocorrido na crítica; cf., p. ex., CARDOSO, Wilton - "A estrutura da Composição em Guimarães Rosa", Ciclo de Conferências sobre Guimarães Rosa, Universidade Federal de Minas Gerais - Centro de Estudos Mineiros - Div. autores, Belo Horizonte, 1966, p. 47.
(11) SPINOSA, Êthique, trad. Appuhn, Paris, Garnier, 1958, II , prop. XXXV) escólio. Grifos nossos.
(12) SARTRE, J . P. - Situations I, Paris, Gallimard, 1947, p. 314 . Grifos nossos.
(13) JUNG, Psychologie et Religion, op. cit., p. 172. Grifos nossos.
(14) JUNG, L'Ame et la Vie, Paris , Buchet/Chastel, 1963, p. 281.
(15) A título de ilustração da natureza especialmente "teórica" de certas falas que - por este motivo - chamamos"textos teóricos", confronte-se, entre outros: pág. 39 (projeção, amor, inconsciente, função da linguagem, homem interior e exterior) ; pág. 59 (Deus, vida, multiplicidade, dôr, nascimento-morte, inferno-diabo, Céu-fim) ; pág. 81 ("antes" e "hoje", Chefia, condição humana-encantamento, projeção) ; pág. 90 (Diadorim, vingança, diabo, "caminho certo", viver) ; pág. 270 (natureza mítica de Zé Bebelo, julgamento, centro, Joca Ramiro e Zé Rebelo) ; pág. 275 (natureza de Diadorim) ; págs. 292 e sgs. (dos mais importantes, síntese contendo "chaves" para quase todos os temas codificados) ; pág. 455-6 (diabo, pacto inegação) ; pág. 456 (processo, ética).
(16) Guimarães Rosa, Carta a Dora Ferreira da Silva, 19.2.1958, Cavalo Azul n.º 3, op. cit., p. 33. Grifos nosos.
(17) Krolow, Karl - "Brasilianisches Epos - João Guimarães Rosa: Corps de Ballet", Süddeutsche Zeitung,Francforte/s/Meno, 8.12.1966.
(18) ROSA, João Guimarães - Tutaméia - Terceiras Estórias, 3.ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1969, p. 153.
(10) Como já tem efetivamente ocorrido na crítica; cf., p. ex., CARDOSO, Wilton - "A estrutura da Composição em Guimarães Rosa", Ciclo de Conferências sobre Guimarães Rosa, Universidade Federal de Minas Gerais - Centro de Estudos Mineiros - Div. autores, Belo Horizonte, 1966, p. 47.
(11) SPINOSA, Êthique, trad. Appuhn, Paris, Garnier, 1958, II , prop. XXXV) escólio. Grifos nossos.
(12) SARTRE, J . P. - Situations I, Paris, Gallimard, 1947, p. 314 . Grifos nossos.
(13) JUNG, Psychologie et Religion, op. cit., p. 172. Grifos nossos.
(14) JUNG, L'Ame et la Vie, Paris , Buchet/Chastel, 1963, p. 281.
(15) A título de ilustração da natureza especialmente "teórica" de certas falas que - por este motivo - chamamos"textos teóricos", confronte-se, entre outros: pág. 39 (projeção, amor, inconsciente, função da linguagem, homem interior e exterior) ; pág. 59 (Deus, vida, multiplicidade, dôr, nascimento-morte, inferno-diabo, Céu-fim) ; pág. 81 ("antes" e "hoje", Chefia, condição humana-encantamento, projeção) ; pág. 90 (Diadorim, vingança, diabo, "caminho certo", viver) ; pág. 270 (natureza mítica de Zé Bebelo, julgamento, centro, Joca Ramiro e Zé Rebelo) ; pág. 275 (natureza de Diadorim) ; págs. 292 e sgs. (dos mais importantes, síntese contendo "chaves" para quase todos os temas codificados) ; pág. 455-6 (diabo, pacto inegação) ; pág. 456 (processo, ética).
(16) Guimarães Rosa, Carta a Dora Ferreira da Silva, 19.2.1958, Cavalo Azul n.º 3, op. cit., p. 33. Grifos nosos.
(17) Krolow, Karl - "Brasilianisches Epos - João Guimarães Rosa: Corps de Ballet", Süddeutsche Zeitung,Francforte/s/Meno, 8.12.1966.
(18) ROSA, João Guimarães - Tutaméia - Terceiras Estórias, 3.ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1969, p. 153.
(19) Idem, p. 154. Grifos nossos.