O primeiro canto

segunda-feira, 3 de novembro de 2014
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Um suicídio altruísta ou um homicídio egoísta?
Por Marli Piva Monteiro
Louis Althusser,
filósofo marxista, filho de franceses, nasceu na Argélia em 1918. Foi
prisioneiro durante a II Guerra Mundial, na Alemanha. Após o período da Guerra,
entrou para a Escola Superior de Paris onde lecionou Filosofia por 30 anos e
exerceu a função de secretário da mesma Instituição. Publicou alguns livros
sobre o pensamento marxista: Por Marx, Ler "O capital" em
1965, Lênin e a filosofia em 1968, Resposta
a John Lewis em 1972, Elementos de Autocrítica em
1973, Posições em 1976.
Criticou duramente o
Partido Comunista Francês do qual fazia parte desde 1948, no livro, O
que não pode mais durar no PCF (1978). Em 1968 foi ativista na
revolução em Paris.
É deste homem, com
esta história de vida e esta bagagem cultural que vamos relatar experiências
drásticas e conflituosas que culminaram com uma morte por ele praticada, a da
sua esposa Helène que se chamava Rytmam e tinha o cognome de Sabine e depois de
Legotien e com quem viveu por mais de 30 anos.
O caso Althusser,
como o caso Schreber envolveu também uma escritura com propósito em causa
própria. O juiz Schreber visava livrar-se do Asilo de Sonnenstein, Althusser,
por sua vez, pretendia dar uma resposta com seu livro O futuro dura muito
tempo. Como foi sancionado por impronúncia, seu objetivo é, como diz ele,
"afastar a pedra sepulcral" sobre a sua fala, para expor-se aos
outros e recuperar o julgamento suspenso, adquirindo o domínio sobre algo que
não conseguia controlar. Vera Pollo (2002) num capítulo do livro organizado por
Quinet "Extravios do desejo" chama a atenção de que Louis Althusser
vale-se das palavras dasConfissões de Rousseau "direi
com todas as letras: eis o que fiz, o que pensei, o que fui, (acrescentando), o
que compreendi ou acreditei compreender, isso que não domino mais totalmente,
mas isso que me tornei" (1999: 34).
Por esta atitude de
desmascaramento, Quinet propõe que o livro seja visto como ‘O Outro do
tribunal".
O crime de Althussser
foi o assassinato por estrangulamento da sua companheira o que não lhe tendo
custado processo, devido à impronúncia, custou-lhe a interdição para publicar.
A impronúncia, como castigo, tira-lhe o direito de defesa e de pronunciar-se
abertamente. A impronúncia de Althusser tem duas vias - uma que a ele se dirige
a partir da justiça e outra que a partir dele se dirige ao mundo ao seu redor.
Em vista disso desapareceu do cenário político e literário. Foi morto-vivo
porque não podia falar. Sua saída foi escrever. Escrevendo pôde pronunciar-se e
negar a sua própria morte.
Aliás, a relação de
Louis Althusser com a morte é uma constante. Nas palavras de Althusser:
"Relações singulares deviam imperar entre minha mãe e eu, minha mãe e a
morte, meu pai e a morte, eu e a morte" (1993:50). Os nomes da morte
perpassam sua vida a partir do seu próprio nome LOUIS - nome do seu tio
ex-noivo de sua mãe por quem ela fora apaixonada. A guerra roubou-lhe o noivo e
deixou-lhe de herança um cunhado que lhe propôs casamento. Os comentários de
Louis sobre este nome é que ele é muito curto e a pronúncia se confunde com LUI =
ele, o tio. O final do nome OUIS, pronunciado, confunde-se
com OUI = sim, que parece lembrar a afirmativa do desejo da
mãe. Além disso, o sobrenome, ALTHUSSER ao ser escandido resulta em ALT que
quer dizer velho e HUSSER = häuser = casas - velhas
casas.
O desejo de Louis era
chamar-se Jacques, nome que teria algo que o identificasse
com o pai - faltava-lhe o Nome do Pai. Queria ter um nome forte começando com J que
lhe lembrava o jato do esperma e um "a" como
o de Charles, do pai e QUES = queue = cauda, rabo,
órgão sexual masculino, Finalmente Jacques o lembrava de "jacquerie",
a revolução camponesa, de que com tanto orgulho lhe falava o avô.
A relação com a mãe
sempre foi sentida como simbiótica e castradora e por ela se manteve casto até
os 29 anos. Ele vivia o conflito de atender o desejo da mãe ou apropriar-se do
seu próprio corpo "para começar a sair das regras da família"
(1993:74). A forma como se identificava com os professores era de imitação dos
seus gestos, gostos, opiniões e mesmo inflexões de voz. Isso, no entanto o
fazia sentir-se uma impostura - um ser que não tinha existência própria - era
apenas um habilidoso na arte de manipular e seduzir os outros para sentir-se
amado. Com isso esperava o reconhecimento da sua existência. Não sem motivo,
Althussser sentiu-se bem e protegido na prisão alemã onde cultivava a fantasia
de "desaparecer" para fazer crer que fugira. Suas relações com seus
amigos tinham fortes tinturas homossexuais, mas continuava casto até conhecer
Helène, quando então teve a primeira relação sexual. Ao conhecê-la teve o
impulso do amor impossível e no dia seguinte telefonou desesperado com a
sensação de abismo que o invadia, para dizer-lhe que nunca mais iria fazer amor
com ela.
Helène tinha pavor de
ser uma megera como sua mãe. Tinha crises de "fúria" que quase a
impediam de viver, com medo de repetir a estória da mãe e sentindo-se incapaz
para o amor, embora Louis a considerasse uma pessoa que sabia amar como ninguém.
Mas Helène também foi
marcada pela morte de forma atroz. Com a separação dos pais, coube-lhe aos 11
anos de idade, o cuidado do pai doente de câncer. Contava apenas com a ajuda do
médico que depois tentou seduzi-la causando-lhe profundo desapontamento. Foi a
ela que o Dr. Dileron encarregou de aplicar a última injeção de morfina no pai,
já no leito de morte.Um ano depois, a estória se repetiu com a morte da mãe.
Aos 13 anos, portanto, Helène "matara" o pai e a mãe.
O primeiro sentimento
de Louis em relação a Helène foi de repulsa ao "cheiro da pele".
Apesar de ter tentado afastar-se, Louis continuou a encontrar-se com Helène,
mas antes de terem dormido juntos, fez questão de apresentar-lhe uma moça que
cortejava, Angelina, só para provocá-la, como ele mesmo diz. Ele descreve a
sensação do primeiro intercurso como "surpreendente, exaltante e
violento" mas quando ela saiu, ficou "um abismo de angústia".
Helène parecia dizer-lhe "dê-me o direito de existir", assim ele o
sentia. Será que o deu, matando-a?
Ele se divertia muito,
forçando-a a cenas terríveis que pareciam comprovar sua forma de comportar-se
como uma mulher má. No entanto, Helène tinha uma grande capacidade de escuta
que lhe rendeu até um comentário de Lacan que na época vivia com Sylvia -
"você teria dado uma extraordinária analista".
Louis sentia-se sem
existência real - vivia das imposturas. Quando seu analista interpretou a
depressão como a sua onipotência, vibrou e passou a sentir-se potente. De 1947
a 1980 refere ter tido umas 15 crises. Seus medos se resumiam em ser
abandonado, ser exposto a uma demanda de amor e que tivessem idéias a seu
respeito.
Para Freud, o afeto
do luto é provocado pela perda de libido e a conexão com a identificação
narcísica é inequívoca. Freud assinala ainda a diferença entre a melancolia e
as neuroses atuais, pois naquela "o buraco é na esfera psíquica".
Por isso, a
característica da melancolia é o retorno da libido do objeto que se direciona
ao eu, mas ao contrário da megalomania onde há um inchaço, na melancolia há um
esgotamento, perda de interesse, desânimo, desinteresse pelo mundo, diminuição
da auto-estima, inibição, auto-acusações, invectivas e, além disso, uma espera
delirante de punição. Os conceitos freudianos da melancolia arrebataram Abraham
a um debate, pois apesar de admitir os elementos violentos e criminosos dos
pensamentos depressivos, considerava que o melancólico perdera algo que não
sabe o que é e que se sente na obrigação de fazer publicamente o que é vedado a
qualquer um em circunstâncias normais. Contudo, para Abraham é inaceitável que
as auto acusações sejam oriundas de hetero acusações. Numa tentativa de resumir
esta etapa do pensamento freudiano, Lacan afirma que "a melancolia é o
triunfo do objeto" e para compreendê-lo, é preciso distinguir a suspensão
do desejo neurótico direcionado à imagem especular, o ideal do eu e o objeto
mais primitivo - Das Ding, o objeto a, ou a Coisa, como
queiram. Na verdade é nada mais, nada menos que o que restou do Real do corpo,
ou da carne, que não se deixou aprisionar pelo significante.
O melancólico, de
modo diferente do neurótico não se deixa capturar em sua imagem de objeto
narcísico, mas vai situar-se próximo ao puro desejo de morte.
O mecanismo dominante
na perversão é a Verleugnung, ou seja, a recusa. O falo é substituído pelo
objeto fetiche, a castração desmentida e o sujeito pode escolher uma mulher
como objeto sexual por ela possuir supostamente, o falo. A partir do fetichismo
estabelece-se a clivagem do eu - o fetiche presentifica no nível intrapsíquico,
dois componentes inconciliáveis, a saber, o reconhecimento da ausência do pênis
na mulher e a recusa da realidade desse reconhecimento. Esses dois componentes
co-existem o tempo todo sem jamais se influenciarem reciprocamente, mas em sua
relação com a dialética do desejo, a situação se põe assim, percebendo o pai
como concorrente fálico, a criança percebe duas ordens de realidade para
interrogar o curso do seu desejo. Por um lado, percebe que não é objeto
exclusivo do desejo da mãe e por outro, percebe que a mãe é faltante. É em
função disso, que o pai vai inscrever-se no registro da rivalidade imaginária o
que contribuirá para determinar dois traços marcantes da estrutura, o desafio e
a transgressão. A figura paterna representa o perigo, o proibido, e sugere um
estranho gozo do qual a criança é excluída. Numa etapa posterior favorável, a
falta seria simbolizada e a castração da mãe assegurada, neste caso, a
simbolização da falta não ocorre e permite a negação da castração da mãe.
Baseada na negação do desejo da mãe pelo pai, no que se refere à diferença dos
sexos, o perverso acaba por condenar-se a viver a insuportável aflição do
terror à castração. A única saída do perverso é desafiar a lei,
transgredindo-a.
A relação do perverso
com as mulheres é, segundo Joel D’Or, (1991:108), "sintomaticamente
estereotipada".
Seria Louis Althusser
um perverso?
Louis amava Helène
"como se ama um homem", segundo ele próprio. De maneira
estereotipada? Ele também, como Helène dizia-se incapaz de amar e insensível ao
amor impessoal que despertava nos outros, homens ou mulheres. Ele o atribuía ao
amor impessoal que lhe dedicava sua mãe, "traspassando-o" para
atingir um outro (lui/ Louis), um morto. A situação era vivida por ele como a
própria castração, que em muitas circunstâncias se atualiza, como quando a mãe
instiga o pai para que puxe o prepúcio do menino para corrigir uma fimose que o
atormentava.
Porém, Louis achava a
vida de sua mãe muito sofrida e costumava auxilia-la nos serviços domésticos
para aliviá-la, tornando-se, no seu dizer, um verdadeiro "homenzinho do
lar". A vida de Louis era a tentativa frustrada de realizar os desejos da
mãe e não conseguia dar a Helène, a quem confessa amar sem reservas, algo que
expressava como "tudo" o que ela lhe pedia como o que lhe permitisse
sair da angústia de ser só e de ser uma megera, de ser, enfim, capaz de
despertar o amor de alguém. A relação conflituosa e conturbada que se instalou
entre Louis e Helène era entremeada das tentativas de seduzi-la e provocar-lhe
o medo para evitar o perigo de "soçobrar em suas mãos". Por isso
insistia em apresentar-lhe sempre, as mulheres que estava empenhado em
conquistar, para receber sua aprovação - a aprovação de uma boa mãe
(provavelmente a sua). Mas isso era um tormento para Helène que nunca tivera
uma boa mãe. Ela bem que tentava e chegou até a aceitar que ele tivesse casos,
contando que não a fizesse saber. Isso, contudo, era o que ele não dispensava,
esse olhar terceiro que assegura o gozo perverso. O testemunho de Helène era
indispensável ao gozo que daí advinha, inclusive com as crises de raiva que lhe
costumava provocar e que produziam insuportável sentimento de culpa por
confirmar a megera que tanto lutava para negar. Não satisfeito com essas
provocações, passou a intimida-la criando situações em que inventava que iria
assaltar uma loja ou um banco e ensaiava algumas tentativas, o que a deixava
desesperada. "...eu a fazia viver na insegurança e no terror mais
absoluto"...(1993:140), afirma ele. E adiante acrescenta, "não se
pode tratar um ser humano desta maneira", quando percebe o medo que passa
a sentir de ser capaz de matá-la com as suas provocações que qualifica de
"dementes". Essas práticas provocativas e chantagistas eram usadas
ainda com o seu analista que acabou, segundo ele, atendendo também Helène, o
que motivou por parte de seus amigos, por ocasião do crime, de comentar que a
análise deles era "um círculo infernal", "um impasse total"
ou um "ménage a trois". Louis gaba-se de pressionar o Dr. Etienne,
seu analista e chantagea-lo com uma "insistência suicida". Ele
demonstra ter muita consciência de sua capacidade de fazer com que os outros
fossem seduzidos, para provoca-los e reduzi-los à sua mercê.
Quanto ao analista,
que como Lacan atendia pessoas com íntimas relações e até familiares, ao mesmo
tempo, ele considerava Louis e Hélène como "casos atípicos" e suas
relações também "relações atípicas", por que a análise deles não
poderia ser atípica?
Louis Althusser
descreve detalhadamente como se comprazia ao ver no rosto de Hélène o desespero
e a morte. "era aterrador e deslumbrante", diz ele, "ver a
alternância do seu rosto, às vezes aberto, grave macio como um homem"...
"subitamente fechado, surdo e mudo para sempre". É curioso observar
que o rosto aberto, macio lhe lembrasse um rosto de homem.
O próprio Althusser
relata que criava para seus amigos uma Hélène terrível para depois desculpar-se
e desculpá-la. As pessoas que a conheciam tornavam-se amigas por elas mesmas e
os amigos dele que se aventuravam a uma aproximação, percebiam uma mulher "inteligente,
intuitiva, corajosa e generosa" (1993: 148).
Desse jogo com Hélène
ele testava seu receio de não ser homem capaz de amar uma mulher.
Foi com os escritos
de Sacha Nacht que descobriu suas imposturas profissionais, sua capacidade para
escrever sobre um autor ou livro que desconhecia e a sensibilidade para a
conjuntura devido às situações de constantes conflitos aos quais vivia sujeito.
No entanto, nunca conseguiu fazer com os textos de Freud o que fez com os de
Sacha Nacht.
A respeito de Lacan,
Althsusser comenta que teve vários encontros com ele e por vezes sentiu-se
fazendo com ele o papel de "pai do pai", como fazia com seus amigos,
principalmente quando Lacan passou maus momentos e jantaram juntos,
"...ele me contava o diabo a quatro sobre alguns de seus analisandos e
sobretudo sobre suas mulheres, que também analisava, ao mesmo tempo que
analisava os maridos"(1993: 166). Foi inclusive Althusser quem ofereceu a
Lacan a École Normal para fazer seus seminários das 4as. Feiras ao meio dia,
quando Lacan foi expulso de Saint-Anne. Lacan acabaria perdendo este espaço
porque seus ouvintes inundavam de fumaça o ambiente da sala e inclusive a
biblioteca.
Althusser refere um
episódio com Lacan que o procurou em seus aposentos na École, numa manhã muito
cedo. Estava desesperado devido ao suicídio de Sebag, um cliente que teria
deixado a análise por iniciativa do próprio Lacan porque Sebag se apaixonara
por Judith, filha do seu analista que considerou o impasse intransponível.
Interrompeu a análise, mas continuou vendo diariamente o cliente e se colocando
à sua disposição a qualquer hora. Depois do suicídio, Lacan vagou por toda
Paria para "justificar-se" perante os amigos e colegas.
Nos dias que
antecederam à morte de Hélène, Louis considera terrível a situação vivida pelos
dois. Ele tinha vindo de novo internamento e ela não conseguia mais suportar as
depressões do marido e sua solidão durante o tempo em que ele permanecia
internado. Incomodava-a que os muitos amigos que ligavam para saber notícias
dele nem se incomodavam de perguntar com ela estava.
Saindo deste
penúltimo internamento, o último antes dos episódios cruciais trágicos,
voltaram à França por 8 a 10 dias e de lá retornaram para viver o que ele
qualificou de um "inferno sem trégua". Louis declara não saber que
regime impôs à companheira para que ela transtornada, decidisse abandoná-lo
porque não conseguia mais viver com um "monstro". Hélène não lhe
dirigia a palavra, levantava-se cedo e partia em busca de algum lugar para
ficar, batendo a porta e só voltando para dormir. Isso o alucinava. Após alguns
dias ela falou em suicídio. Ele não acreditou e achou que poderia resolver a
situação deixando o tempo passar. Um dia, finalmente, ela pede para que ele a
mate. Nesse ponto, estavam os dois isolados e negavam-se a atender até o
telefone. Amigos do casal culparam o analista por não ter interferido, mas não
é verdade. O analista insistiu na hospitalização de Louis, mas Hélène pediu
mais três dias. O analista acatou, embora depois se arrependesse e tentasse comunicar-se
mandando uma correspondência que o correio atrasou, pedindo que ela lhe
telefonasse.
Num domingo à 09h,
após "uma noite impenetrável" de acordo com Louis, ele faz a seguinte
descrição: ..."estava aos pés da cama de Hélène, de roupão, Hélène deitada
à minha frente e eu continuando a lhe massagear o pescoço com a sensação de que
meus antebraços estavam muito doloridos. Compreendi depois pela imobilidade dos
olhos e daquela pobre pontinha de língua entre os dentes e os lábios que ela
estava morta..."(1993:224).
E continua:
"Estrangulei minha mulher, que era tudo para mim, durante uma crise
intensa e imprevisível de confusão mental, em novembro de 1980, ela que me
amava a ponto de querer apenas morrer, na falta de poder viver, e talvez eu
tenha, em minha confusão, e em minha inconsciência, "prestado esse
serviço", do qual ela não se defendeu mas do qual morreu"(1993: 11).
O desejo de Althusser
de sair do anonimato após o crime, o faz escrever, não como se "afastasse
a pedra sepulcral da impronúncia", mas para dar conhecimento público de
tudo que sobre esse ato se pudesse saber e para ter a certeza de que nada mais
lhe perguntariam e obter a glória de dizer que foi ele mesmo quem escreveu e
não permitir brechas para mais nada que se pudesse acrescentar.
BIBLIOGRAFIA
ALTHUSSER, Louis. O
futuro dura muito tempo - seguido de Os Fatos. S. Paulo: Cia das
Letras,1993.
D’Or, Joel. Estrutura
e Perversões. Porto Alegre: Artes Médicas,1991.
FREUD, Sigmnd. Luto e
Melancolia. Vol. XIV. In: Edição Standard Brasileira das obras psicológicas
completas de. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, Sigmund.
Introdução ao Narcisismo. Vol.XIV. In: Edição Standard Brasileira das obras
psicológicas completas de. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, Sigmund. Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade.Vol VII. In: Edição Standard Brasileira
das obras psicológicas completas de: Rio de Janeiro:Imago, 1976.
LACAN, Jacques. O
Seminário livro 4 - A relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor ,1994.
LACAN, Jacques.O
Seminário livro 3 - As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1995.
POLLO, Vera. O caso
Althusser: um suicídio altruísta? In: Quinet Antonio(org). Extravios do desejo:
depressão e melancolia. 2a. ed. Marca d’Água Livraría e Editora: Rio de
Janeiro, 2002.
QUINET, Antonio
(org). Extravios de do desejo: depressão e melancolia. 2a.
ed.. Marca d’Água Livraria e Editora: Rio de Janeiro, 2002.
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
"...Te direi em segredo aonde leva esta dança"
Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.
Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.
Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.
Rumi
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Filosofia, Literatura & Grande Sertão: Veredas
Filosofia e
literatura. O problema moral no «Grande Sertão: Veredas»
Álvaro Martins
Andrade
"Mas liberdade -
aposto - ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de
grandes prisões. Tem uma verdade que se carece de aprender, do encoberto,e que
ninguém não ensina: o beco para a liberdade se fazer." (GSV, 290)(1).
"A liberdade é
assim, movimentação." (GSV, 303).
"ROSA: Sim, fui médico,
rebelde, soldado. Foram etapas importantes da minha vida, e, em rigor, a
seqüência representa um paradoxo. Como médico, conheci o valor místico do
sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como soldado, o valor da
proximidade da morte...
LORENZ: Deve-se entender isso
como uma escala de valores?
ROSA: Exato, é uma escala
de valores.
LORENZ: E não são esses três
conhecimentos, no fundo, a espinha dorsal do romance "Grande Sertão"?
ROSA: São, mas somam-se
ainda outros, sobre os quais nós temos ainda de falar também."(2)
"O inconsciente
é capaz, por momentos, de manifestar mais inteligência e finalidade do que não
o é a introspecção consciente." Jung(4) A exemplo de toda a
travesia do Riobaldo - ou de toda filosofia - a gênese do pensamento moral de
Guimarães Rosa se dá segundo um processo que comporta etapas prévias e
necessárias. Com efeito, encontra-se no Grande Sertão: Veredas se
não uma sistemática 'filosofia das ciências", pelo menos um narrador que
reflete sobre o conhecimento do seu mundo e do teu tempo, a ponto de já poder
"formular" a "hipótese" (ou "tese"?):
"Ao que, este
mundo é muito misturado..." (GSV, 210, grifo
nosso)
Embora o problema de
uma filosofia das ciências no Grande Sertão: Veredas não
esteja compreendido na presente análise, ainda assim é necessário assinalar -
para os efeito da análise posterior - que o narrador tem uma síntese coerente
de conhecimentos sobre o universo e o homem. Mesmo sem se poder falar ainda e
rigorosamente defilosofia, trata-se de uma indagação preliminar que
estabelece efetivamente certos referenciais fixos neste
"mundo movente" - para usar a feliz expressão de José Carlos
Garbuglio(5). Encontramos em
seguida uma metafísica - no sentido de uma complementação,
seguramente sempre hipotética, do fragmentário quadro de conhecimentos sobre o
mundo e o homem. "Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se
dispõe para a gente é no meio da travessia." (GSV, 62-63). Por isso,
seguramente, "o real roda e põe adiante." (GSV, 133) Sem pretender
ser superior à "ciência" representada pelo seu interlocutor
silencioso, a "metafísica" do narrador ou do compadre meu Quelemém
ainda assim visa sempre preencher de maneira "razoável" as
persistentes lacunas do conhecimento "científico":
"A razão normal
de coisa nenhuma não é verdadeira, não maneja." (GSV, 334),
diz o narrador, talvez
melhor esclarecendo suas curiosas referência e descrição do compadre Quelemém,
o qual "quer saber tudo diverso: quer
não é o caso inteirado em si, mas a sobre-coisa, a outra coisa." (GSV,
189, grifos nossos)
Da mesma forma que
para o seu autor(6), também para o narrador o
ético e o metafísico são inextrincavelmente interdependentes. A partir dos dois
conceitos que este sábio ex-jagunço mais elabora - destino e liberdade -
ocuparnos-emos agora do ético e do metafísico, com vistas à determinação do
conceito que (embora não referido nominalmente pelo narrador) a nosso ver
informa toda a sua ação e pensamento: o finalismo inerente à
existência humana, o quantum de necessidade que define o
sentido comum, invariável e universal dos mitos do herói.
A idéia de um finalismo
inerente à substância já se encontra presente no sistema aristotélico:
na passagem da potência para o ato, da forma para a matéria, quando o dynamós realiza as
melhores potencialidades, já é com afinalidade de realizar
"o melhor dos mundos possíveis." Negada pelo Pascal cartesiano
("As flores e os passarinhos não demonstram"), esta orientação ou
finalidade interior ao dynamós e à substância, realizando-se
continuamente pela transformação (que desta forma supõe o tempo) implicará
assim na irreversibilidade, com todas as suas conseqüências
que, no caso do narrador, serão de ordem sobretudo ética porque também
psicológicas. "A partir de um certo ponto, não há mais retorno.
Esse é o ponto que se precisa atingir" - já o sabia o Kafka das Considerações
sobre o pecado, a dor, a esperança e o verdadeiro caminho. Nosso
narrador vai mais longe: associa e coloca este 'ponto" crítico
("ponto de marca") no interior do finalismo ("Tudo tinha
me torcido para um rumo só") - e portanto inerente a este,
verdadeira finalidade no interior da necessidade:
"Tem um
ponto de marca, que dele não se pode mais voltar para trás.
Tudo tinha me torcido para um rumo só, minha coragem
regulada somente para diante, somente para diante." (GSV
203, grifos nossos).
Acreditamos ter
deixado suficientemente claro, em outras análises dedicadas especificamente ao
problema(7), que o "rumo só"
para o qual está "minha coragem regulada" é o rumo do inconsciente, o
do mergulho nas imagens primordiais do mito pessoal. "Tendo atravessado o
Rubicão, seria impossível voltar atrás", diz Jung valendo-setambém das
(no caso) indispensáveis metáforas.(8)
Reconhecemos que a
insistência com que o narrador - direta ou indiretamente - refere o destino, autorizaria
pensar em uma concepção de homem de tipo determinista ou fatalista. Observe-se,
contudo, que não só o próprio conceito quanto suas variantes são sempre
utilizadas de maneira ambígua, de maneira tal que se tem desde suacategórica
afirmação até sua radical negação, passando por
outros usos metafóricos e poéticos que permitirão determinar seu verdadeiro
valor significativo. Associados a outras "falas", tais usos
possibilitam determinar seusentido original. No primeiro caso
(acepção ingênua e determinista), tem-se o narrador se referindo à adivinha Ana
Duzuza, mãe de Nhorinhá:
"No momento, foi
que eu caí em mim, que podia ter perguntado à Ana Duzuza alguma passagem de
minha sina por vir. (...) E se a Duzuza adivinhasse mesmo,
conhecesse por detrás o pano do destino?"(GSV, 35, grifos
nossos)
Com a mesma acepção
(embora sem referí-lo), reaparece na estória de Davidão e Faustino, na qual,
como após o pacto entre ambos nenhum dos dois morre, o narrador diz que
"Para nenhum deles tinha chegado a hora-e-dia"(GSV, 81,
grifos nossos) Ou, ainda, referindo-se a Fancho-Bode e Fulorêncio, que
"Morreram, porque era seu dia,deles, de boa questão."
(GSV, 154, grifo nosso) Entretanto, descrevendo os momentos que precederam ao
pacto, o narrador já fala d'"o alto destino possível da
gente" (GSV, 381, grifo nosso), introduzindo assim a primeira"variação" que,
por si mesma, negaria a noção estrita de um
"destino" enquanto determinismo, pre-determinismo ou
fatalismo. A menos que se conceba a paradoxal duplicidade do destino - um
"alto" e outro "baixo". O "possível", aqui, já
abre necessariamente para uma concepção de liberdade que, se não nega a
necessidade do determinismo estrito, a relativiza em finalismo. Ou,
se é possível dizê-lo - a liberdade no interior da necessidade se traduz em
permanente atualidade livre:
"E o que era
para ser. O que é pra ser - são as palavras."
(GSV, 47, grifos nossos) Esta
"relativização" do destino é nitidamente sugerida pelo narrador ao se
perguntar se "Deveras se vê
que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?" (GSV,
106, grifos nossos), pois na realidade ele
também conhece e admite o que chama de "acaso" e sua importância:
"Ao que, digo ao
senhor, pergunto: em sua vida é assim? Na minha, agora é que vejo, as coisas
importantes, todas, em caso curto de acaso foi que se
conseguiram - pelo pulo fino de sem ver se dar - a sorte momenteira, por cabelo
por um fio, um clim de clina de cavalo. Ah, e se não fosse, cada acaso não
tivesse sido, qual é então que teria sido o meu destino seguinte? Coisa vã, que
não conforma respostas. Às vezes essa idéia me põe susto." (GSV, 120-121,
grifos nossos) Se o determinismo
estrito ("destino") é assim limitado e relativizado pelo narrador, a
tal ponto este já se represeenta claramente sua concepção d'"essa
idéia", que chega ao extremo cuidado de relativizar também o
oposto - isto é, a "liberdade de escolha" - antecipando de
quase quatrocentas páginas o conceito-chave de sua concepção da existência
humana ("Cumpro." - GSV, 571):
"Quem que diz que na vida tudo se escolhe? O que castiga, cumpre também."
(GSV, 205, grifos nossos) O problema que se
coloca, portanto, seja para o narrador, seja para nós, é o seguinte: o destino
do homem é problema de Deus, ou do próprio homem? Ao nível da narrativa dos
"fatos", o artifício utilizado para elaborar o tema será o mesmo
utilizado pelo Goethe do Fausto: a aposta, o pacto (Fausto será perdido?
Fausto se perderá?). Ora, em relação ao "Deus" do
narrador, se é verdade que ele "quer" alguma coisa em relação ao
homem, é preciso reconhecer que não somente se trata de um objetivo bastante
simples e "saudável" (a "alegria"), como também será
necessário reconhecer que este mesmo "Deus" "respeita" a liberdade
do homem ("na horinha em que se quer"):
"O que
Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais,
no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de
repente, na horinha em que se quer, de propósito - por
coragem." (GSV, 301, grifos nossos)
Além do já verifcado
em relação a esse Deus do narrador como categoria antropológica e imagem do
centro ou Si(9) seu
"parentesco" com o diabo, esta humanidade liberal de um Deus que
assim respeita a liberdade humanaverifica-se ainda pela conseqüente
solidariedade e responsabilidade que decorreria do próprio
"pacto": "Se vendo minha
alma, estou vendendo também a dos outros." (GSV, 294, grifo
nosso). Mas não nos iludamos,
não se trata de um existencialista a repetir os lugares-comuns sartrianos. Já
vimos que, na realidade, enquanto o narrador "brinca" com diferentes
jargões filosóficos ou pseudo-filosóficos, simultaneamente
"dialetiza" entre os sistemas originários destas linguagens, em
busca de sua síntese pessoal. Observe-se que, de tomar ou interpretar
isoladamente algumas falas "sentenciosas" do narrador, sem
previamente estabelecer seu contexto subjetivo e o global de seu universo,
poder-se-ia em conseqüência "definir" sucessivamente seu
"pensamento" não apenas como
"existencialista"(10), mas também
"spinosano", "kantiano" e outros mais.
Com efeito, descrevendo
a entrada no sertão de Minas, na perseguição final ao Hermógenes, ao mesmo
tempo que reafirma a já apontada irreversibilidade da específica
"travessia" que está realizando (a do inconsciente para o
consciência), o narrador "se revelaria" também como um
"spinosano":
'Dali de lá, eu podia
voltar, não podia? Ou será que não podia, não? Bambas asas, me não sei. Bambas
asas... Sei ou o senhor sabe? Lei é asada é para as estrelas. Quem sabe, tudo o que
já está escritotem constante reforma - mas que a
gente não sabe em que rumo está - em bem ou mal, todo-o-tempo
reformando?" (GSV, 510, grifos nossos) Se é verdade que
"a ilusão da liberdade vem da consciência de nossa ação e
da ignorância das causas que nos fazem agir(11), o narrador seria realmente
um "spinosano" ("tudo... está escrito... a gente não
sabe...");entretanto observe-se: "tudo o que já está escrito tem
constante reforma": a liberdade não é uma "ilusão" nem
o narrador um "spinosano".
Tem sido esse mesmo
tipo de análise (sem levar em conta o contexto subjetivo e global de um
narrador que "brinca" com as linguagens dos "sistemas"
filosóficos) o que, a nosso ver, tem ocasionado, na crítica rosiana até aqui
publicada, a aproximação mais freqüente das "idéias filosóficas" do
narrador com as assim chamadas "vertentes existencialistas". E,
realmente, se adotado o critério fácil da simples justaposição, pode-se de fato
"provar" por tal meio que o narrador é um
"sartriano". Se não, vejamos: discutindo o problema da liberdade em
Descartes, Sartre observa que "ele compreendeu, melhor que ninguém, que a
menor démarche do pensamento engaja todo o pensamento, um
pensamento autônomo que se põe, em cada um de seus atos, em
sua independência plena e absoluta."(12) Se assim é - e com a
mesma facilidade de critério das simples aproximações - nosso narrador seria
"sartriano" quando diz que "Ações? O que eu
vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada." (GSV,
170, grifos nossos), hipótese que
imediatamente se "verificaria" pela afirmação de que "A liberdade é
assim, movimentação" (GSV, 303, grifos nossos). Entretanto, não
esqueçamos que para o narrador, a liberdade é essencialmente uma libertação: libertação
das trevas do "não-saber" (GSV, 96, 97, 133, 272,
294), do seu "sertão" (GSV, 149, 270, 271,
274, 334, 354, 409,432, 466, 486-487,
490, 491, 501, 510, 540, 560), enfim,
libertação em relação ao seu inconsciente. "Sujeição epossessão são sinônimos. Esta
a razão pela qual há sempre algo na alma que toma a dianteira,
limita ou põe em xeque a liberdade moral"(13). E não esqueçamos que, se
Diadorim é o grande "personagem" deste inconsciente, na fase inicial
e caótica do herói "As vontades de minha pessoa estavam entregues a
Diadorim." (GSV, 37) Não obstante, "enquanto ser natural,
simpelsmente criado ou emerso de pre-condições inconscientes, o
homem não tem nenhuma liberdade e a consciência não tem
nenhuma 'razão de ser'. O julgamento psicológico deve ter em conta que, em
virtude do fato de que a despeito de toda sua intrincação causal, o homem
possui um sentimento de liberdade que se confunde com
a autonomia da consciência. Embora todas as coisas, tomadas
uma a uma, provem ao Eu que ele é dependente e condicionado, não
se pode entretanto persuadí-lo de sua escravidão."(14)Convenhamos que, tomada passo
a passo a evolução do jagunço Riobaldo ao Chefe Urutú
Branco e, finalmente, aonarrador-enquanto-narrador ("hoje",
"agora"), não se confundem a falta de "razão de
ser" inicial do primeiro (GSV, 11, 272 etc.), o "sentimento de
liberdade que se confunde com a autonomia da
consciência" do segundo (GSV, 437, 527 etc.) e a liberdade-libertação de
que goza o terceiro e último: "Agora, paz." (GSV, 432) Pensada assim,
como árdua e penosa libertação do "dentro do ferro de
grandes prisões" do inconsciente, comprende-se então quetambém a
"verdade" da liberdade tenha de ser aprendida nesta
solitária conquista a partir do "encoberto": "Vento que vem
de toda parte. Dando no meu corpo, aquele ar me falou em grito de liberdade.
Masliberdade - aposto - ainda é só alegria de um
pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Tem uma
verdade que se carece de aprender, do encoberto, e que ninguém
não ensina: o beco para a liberdade se fazer." (GSV,
290, grifos nossos) Avessas a todo o
"racional" e "intelectual", a ética e mesmo a metafísica do
narrador e seu autor serão sempre fundadas no vivido, numa
concepção geral do universo e do homem simultaneamente
"experimentada" e verbalizada ao longo da narrativa. Procuremos
assim, agora, determinar a forma e as conseqüências práticas que -para a
ação - tem esta concepção ético-metafísica do homem e do universo.
O que estamos
chamando de "metafísica", no Grande Sertão: Veredas é
o conjunto de proposições "sentenciosas" e "textos
teóricos"(15) que - transcendendo as
aparentes "contradições" e "ambigüidades" - apresenta
verdadeirahomogeneidade entre si, completando assim as poucas
certezas "racionais" do narrador e lhe permitindo resolver os
problemas e desafios que lhe colocam sua existência e o mundo: o que é o sertão, o
que é viver. Observe-se que as progressivas falas e respostas que
definem especialmente a "metafísica" do narrador, também aí se dão
segundo as possibilidades de toda e qualquer metafísica. Isto é, todas as suas
proposições que configuram um "sistema" se conformam segundo a adoção
de uma crença radical, prévia e organizadora - mais de Guimarães Rosa que de
Riobaldo - e que funciona como postulado fundante da metafísica em questão.
Ora, tais possibilidades geradoras das metafísicas - sem pre referidas à
"Ordem" ou à idéia de uma ordem - dão-se
invariavelmente na raiz de toda e qualquer metafísica sob uma das três
alternativas: há uma Ordem no universo; não existe Ordem alguma no universo;
ou: uma ordem se ela* hora progressivamente. A adoção da
terceira destas três alternativas encontra-se na raiz de toda a reflexão moral
do narrador: uma ordem, um mundo e um homem in fieri, fazendo-se, em
processo.
Muitas vezes o
narrador faz pensar que Guimarães Rosa teria platonicamente optado pela afirmação
de uma Ordem. Mas com o simples fato de fazer pensar o
narrador, Guimarães Rosa revela estar muito mais próximo da terceira
alternativa: toda Ordem é construção e elaboração progressiva: "Gosto de
achar que tudo evolui e avançanecessariamente
bem."(16) A própria adoção desta
alternativa já é de certa forma uma "inclinação" inicial,absolutamente
indemonstrável e provavelmente de natureza afetiva, semelhante,
talvez, à que faz com que alguns de nós gostemos mais de Riobaldo, outros de
Diadorim. Afinal, "A gente sabe mais de um homem, é o que ele
esconde." (GSV, 319)
É esta inclinação ou
opção pela Ordem in fieri, pelo movimento,
transformação orientada e pela metamorfose do
processo que, a nosso ver, constitui a verdadeira opção de Riobaldo-Rosa. Desta
forma resulta ainda um tanto arbitrário quando dizemos que o pensamento moral
de Riobaldo é o resultado ou conseqüência de uma elaboração metafísica anterior; na
realidade, no caso deste narrador porta-voz de seu autor, o ético está na
origem do "metafísico"ambos inextrincavelmente ligados ao
psicológico. Neste sentido se pode dizer indiferentemente que oGrande
Sertão: Veredas está construído de trás para diante ou de diante para
trás: quando, encerrando sua "estória", o narrador diz que "No que narrei,
o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade" (GSV,
564, grifo nosso) é porque efetivamente
ele já tem essa "verdade", sabe que só é possível
construir uma "metafísica" coerente a partir não de
uma "razão normal de coisa nenhuma" - que "não
é verdadeira, não maneja" (GSV, 334), mas sim a partir da "Verdade
maior", essa "que a vida me ensinou."
(GSV, 24, grifsos nossos). Mais precisamente ainda, a ética do narrador se
constitui precisamente na elaboração desta intuição afetiva e
anterior a qualquer construção lógico-filosófica, elaboração que assim se
fazendo no modo da ingenuidade fenomenológica,
ao nível da expressãose dará na forma da ambigüidade. Em
última instância, o que o narrador procura (e procura definir) é
o objeto mesmo de toda a filosofia - o sentido ou não-sentido do universo,
desse viver que "nem não é muito perigoso" (GSV, 35), o sentido de
sua própria existência. É esta "intuição", "visão" ou modo
de sentir o mundo que, se ao nível do poético resulta
na criação visionária, ao nível do ético já é de natureza "moral": desenvolvendo-se,
realizando-se e objetivando-se no processo, toma forma e consciência
de si mesma através da reflexão que prova,organizando-se
finalmente em discurso e pensamento moral. Resultados de um engajamento do
coração e do sentimento, ética e metafísica rosianas se dão assim em um
só movimento; somente para efeito de análise se pode considerá-las
separadamente.
* * *
ENGAJAMENTO DO
SENTIMENTO E ENGAJAMENTO DA VONTADE
"Eu queria minha
vida própria, por meu querer governada." (GSV, 335)
"Quem me
entende? O que eu queira. Os fatos passados obedecem à gente; os em vir, também.
Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual - e é o que é.
Isto, já aprendi." (GSV, 324-325)
Graças a um artigo de
Karl Krolow tem-se por definitivamente assentado que toda a obra de Guimarães
Rosa - e por consequência também seu pensamento - se
constituem em um engajamento do coração, ou um engajamento
do sentimento.(17) O próprio autor, aliás,
jamais negou ou objetou qualquer coisa a respeito. Entretanto, por suas
consequências e significação para a determinação do que chamamos um
pensamento brasileiro, urge retomar esta afirmação e verificar em que
medida a mesma é verdadeira - mas não toda a verdade. Isto só é possível de ser
feito a partir sobretudo do próprio texto.
Tomado o Grande
Sertão: Veredas como dimensão maior da realização do mito pessoal do
homem e artista João Guimarães Rosa, embora sua vida pessoal e seus depoimentos
devam contar, são ainda seus textos a sua maiorobjetivação.
Com efeito, a maior
parte dos valores afirmados na obra são de natureza e origem sentimental: bondade,
alegria, coragem etc.:
"- 'Não sabe que
quem é mesmo inteirado valente, no coração, esse também não pode deixar de ser
bom?!" (fala de Diadorim - GSV, 143)
"O vau do mundo
é a alegria!" (GSV, 288)
"- 'Vau do mundo
é a coragem ...' - eu disse." (GSV, 289)
"Mas eu hoje em
dia acho que Deus é alegria e coragem - que Êle é bondade adiante, quero
dizer." (GSV, 296)
Entretanto, na medida
em que tais valores têm de ser vividos ("Deus é bondade adiante"), os
mesmos sãoinstaurados pelo homem na ação - e não
transcendentes ou abstratos. Não obstante, é preciso ter-se em conta que tais
valores, em que pese sua incidência e afirmação ao longo de toda a obra
rosiana, expressam, no fundo,um modo particular de ser (sentimental,
emocional etc) , e que embora postos e elevados à dignidade de valoresmorais,
se se pensa a moral na sua relação com a prática de uma ação,
dificilmente poderiam caracterizar uma ética. Impõe-se aqui, portanto,
o problema dos tipos: não se pode definir como virtudes a
alegria de um extrovertido ou a reserva do introvertido; da mesma forma, não se
pode falar de "valor" em relação ao sentimentoenquanto
função superior do tipo-sentimento, assim como tampouco o é,
moralmente, a superior "inteligência" do tipo-pensamento. Vista da
perspectiva contrária, é a mesma situação pela qual, jurídica e moralmente, o
louco ou débil mental não são considerados responsáveis pelo crime que cometem,
ou ainda, da perspectiva religiosa, seu crime não é considerado
"falta" ou "pecado". Só há virtude ou não-virtude ali onde
se empenham (ou deixam de se empenhar) a vontade, a consciência e a liberdade
individuais. Contra o comportamentismo, ainda é possível
afirmar que o meio inclina, mas não obriga.
Neste sentido, a
nosso ver, aquilo que Krolow chama o engajamento do coração ou
do sentimento na obra rosiana, é precisamente aquilo que esta
tem de mais pessoal: seja no sentido de uma auto-biografia
sincera, seja - eventualmente - no sentido de uma compensação do exatamente
oposto. "O artista é um fingidor.. - já o sabia Fernando Pessoa. Não
estamos afirmando tal hipótese, mas apenas mostrando a
necessidade de se tê-la em conta, em decorrência mesmo do fato de estarmos
diante de uma obra que, se nos apresenta um tipo, ao mesmo
tempo é obra de um artista.
Se, contrariamente,
por valores genuinamente morais entendermos aqueles que dizem
respeito à ação e suas conseqüências, aqui, sim, poder-se-á
falar de uma ética rosiana - esta porém de tipo muito mais voluntarista que
sentimental. De início, refaçamos a "teoria dos valores" do narrador:
"Também, o que é
que vale e o que é que não vale? Tudo." (GSV, 138)
A extensão absoluta
do conceito ("Tudo") é não obstante mais circunscrita pelo próprio
narrador, ao dizer que
"O que
vale são outras coisas." (GSV, 95, grifos nossos)
Por sua vez, esta
circunscrição do axiológico é logo novamente mais precisada - embora ampliada
na ambigüidade de sua formulação:
"Mas, para mim,
o que vale é o que está por baixo ou por cima - o que parece
longe e está perto, ou o que está perto e parece longe." (GSV, 217, grifos
nossos)
Fazendo intervir o
simbolismo da orientação espacial ("em pé" = vertical = consciente)
mais um pouco se precisa esta "ambigüidade" quando o narrador declara
que
"Só o que a
gente pode pensar em pé - isso é que vale." (GSV, 276,
grifos nossos).
Se parecemos nos
aproximar de uma ética do tipo rácionalista e inoperante ("Só o que... pensar em
pé - é que vale"), por outro lado a ação e a proversividade se
impõem:
"Não sabia, hoje
será que sei, a regra de nenhum meio-têrmo. Sem ação, eu
podia gastar ali minha vida inteira, debulhando." (GSV,
83, grifos nossos)
"Tudo tinha me
torcido para um rumo só, minha coragem regulada somente para diante,
somente para diante." (GSV, 203, grifos nossos)
Entretanto,
levando-se em conta o contexto ou experiência específicos a que se refere o
narrador - a subjetividade em processo do seu mito pessoal em realização,
travessia do "sertão"-inconsciente para a "cidade" da
consciência-centro atingido - esta "ação", ao mesmo tempo que assume nova
dimensão moral - condição da autonomia - retorna também
ao seu sentido primeiro, mitológico e psicológico.
* * *
DA HETERONOMIA À
AUTONOMIA: SENTIDO E VALOR DA TRAVESSIA
"Afirmo ao
senhor, do que vivi: o mais difícil não é um ser bom e
proceder honesto; dificultoso, mesmo, é um saber definido o que quer, e ter
o poder de ir até no rabo da palavra." (GSV, 166, grifos nossos)
Ora, "ser
bom" e "proceder honesto" apresenta, em relação à
consciência individual, um duplo aspecto em que os termos finalmente se
invertem: em primeiro lugar, na medida em que têm sua origem na
cultura, representampara a consciência individual, tanto o coletivo como
o exterior: a heteronomia, pois; em segundo lugar, na
medida mesma em que coletivos e exteriores, para a consciência que
recebe tais valores como imposição externa (e não conquista
interior), tais valores resultam, finalmente e à maneira do superego freudiano, inconscientes. O
que é "dificultoso", pois, é a passagem da heteronomia
coletivo-multiplicidade-inconsciente para a autonomia unidade-consciência. Não
esquecer o
"conselho que Zé
Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir
às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca não se deve de tolerar de ter.
Porque, quando se curte raiva de alguém é a mesma coisa que se autorizar que
essa própria pessoa passe durante o tempogovernando a idéia e o
sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta
bobice, e fato é." (GSV, 225, grifos nossos)
Através do universo
de partes mei in aliis personalizadas por via de projeção,
continuamente re-verificamos que o ético, para o narrador, está mais
estreitamente vinculado ao psicológico do que fariam parecer suas
falas tomadasisoladamente. Assim é que melhor se comprende quando o
narrador diz que "Eu queria minha vida própria, por meu querer
governada" (GSV, 335, grifos nossos), ou quando, se valendo das
imagens extremas para o centro (ou eu profundo, ou si mesmo) e para a sombra (o
reprimido, ou negativo), já Chefe - mas não narrador
ainda,"pensa":
"- 'Não sou do
demo e não sou de Deus!' - pensei bruto, que nem se
exclamasse." (GSV, 465, grifos nossos)
Afinal o
"governo" que definirá a autonomia moral, será (ou
não) exercido em relação a um "estado" chamado "sertão":
"O sertão não
tem janelas nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o
sertão, ou osertão maldito vos governa..." (GSV, 466, grifos
nossos)
Desta forma, as
relações de ordem moral que o narrador estabelece entre os domínios do sentimento e
da vontadetrazem-nos de volta às constatações anteriormente
apontadas: o sentimento é um dado, fato da subjetividade que
decorre do tipo psicológico; prima matéria, deverá ser elaborado pela
vontade para, qualitativamentetransformado, assim ascender
à eminência de "valor". Neste sentido e para tal objetivo - a
vontade (seu uso e exercício a partir da liberdade) é
"anterior" e "superior" ao sentimento em questão. Esse
esquema de relações, embora constante em todo o conjunto da obra rosiana,
encontra sua mais clara formulação na Secção IV do quarto prefácio de Tutaméia
("Sobre a escova e a dúvida"). Introduzindo um equivalente do
compadre meu Quelemém, ao qual (não por acaso) chama "o meu guru
Weridião"(18) assim se encontra condensada a
concepção moral do homem rosiano:
"Suspeito nem
sequer minhas vontades profundas. Sob a palavra de Weridião, somos
os humanosseres incompletos, por não dominados ainda à
vontade os sentimentos e pensamentos. E precisaria, cada um, para
simultaneidade no sentir e pensar, de vários cérebros e corações. Quem sabe,
temos?Sem amor, eu é que sou um Sísifo sem
gravidade."(19)
Ainda aqui coerente
com Jung - ao diferenciar "os sentimentos" do amor como uma
forma do sentimento - ainda aqui encontramos "os humanos seres incompletos" definidos
a partir do herói (Sísifo). Para efeito de verificação da
hipótese de um voluntarismo moral que, se não sobrepuja o
"engajamento do sentimento", teria como este o mesmo significado
ético final, seja-nos permitido adotar, neste domínio, as convenções
gráfico-espaciais da formalização matemática, e assim "deduzir" em
"fórmula" aquela que se revela a forma da ética
rosiana:
Assim é que,
escapando continuamente de todo abstrato e puramente intelectual, a ética do
narrador assume a concretude espessa e humana do psicológico vivido como
um
"trabalho de segurar a alma e endurecer as
mãos." (GSV, 180, grifos nossos)
Nem absoluta
liberdade ou livre arbítrio absoluto, nem destino estrito, fatalismo ou
determinismo, se não se pode falar de uma autonomia da moral no
pensamento rosiano, necessário é reconhecer-lhe a precisa formulação de
uma moral da autonomia. Profundamente humana, porque fundada
no que de mais profundo tem o homem; profundamente naturalista, porque fundada
no imediato do psicológico; profundamente realista, porque expressa pelo irreal
do mito; profundamente concreta, porque tarefa de todos nós. Qualquer análise
desta ética, sem qualquer juízo de valor, seria um non-sense. Mais
que qualquer síntese, porém,
"Estou dando
batalha." (GSV, 296)
E mais sintético
ainda, o narrador tudo diz ao dizê-lo em uma única palavra:
"Cumpro."
(GSV, 571)
(1) Todas as citações do Grande Sertão:
Veredas são feitas sobre a 2ª. edição - que é a definitiva.
(2) in LORENZ, Günter - Literatura Deve Ser Vida. Um Diálogo de Günter W. Lorenz com João Guimarães Rosa.Trad. Jehovanira Füchtner e Chrysóstomo de Sousa, do livro Dialog mit Lateinamerika. Panorama einer Literatur Zukunft - Tübingen, Horst Erdman, 1970. Puhl, in Exposição do Novo Livro Alemão - 1971, org. "Austellungs-und Messe-GmbH Börsenvereins des Buchhandels" em col. Institutos Culturais Brasileiro-Alemães. Págs. 272-273.
(3) Carta a Dora Ferreira da Silva, de 19.2.1958, in Cavalo Azul, S. Paulo, 3 :33, s.d.
(2) in LORENZ, Günter - Literatura Deve Ser Vida. Um Diálogo de Günter W. Lorenz com João Guimarães Rosa.Trad. Jehovanira Füchtner e Chrysóstomo de Sousa, do livro Dialog mit Lateinamerika. Panorama einer Literatur Zukunft - Tübingen, Horst Erdman, 1970. Puhl, in Exposição do Novo Livro Alemão - 1971, org. "Austellungs-und Messe-GmbH Börsenvereins des Buchhandels" em col. Institutos Culturais Brasileiro-Alemães. Págs. 272-273.
(3) Carta a Dora Ferreira da Silva, de 19.2.1958, in Cavalo Azul, S. Paulo, 3 :33, s.d.
(4) JUNG, Carl Gustav - Psychologie et
Religion - Trad. Marthe Bernson e Gilbert Cahen, Paris,
Buchet/Chastel, 1958, p. 80.
(5) O Mundo Movente de Guimarães Rosa. São
Paulo, Ed. Ática, 1972.
(6) Cf. Literatura Deve Ser Vida -
entrevista a Günter Lorenz, op. cit., passim.
(7) "O Sertão é o inconsciente", "O sonho e o mito: universo e linguagem", "Matéria e matéria vertente no Grande Sertão" - in Revista de Letras, Vol . 16, 1974.
(7) "O Sertão é o inconsciente", "O sonho e o mito: universo e linguagem", "Matéria e matéria vertente no Grande Sertão" - in Revista de Letras, Vol . 16, 1974.
(8) JUNG, CG. - Psychologie et Alchimie, Trad.
Dr. Roland Cahen e Henry Pernet, Paris, Buchet/Chastel, 1970, p. 161.
(9) Cf. ANDRADE, Álvaro Martins - "Matéria e
Matéria Vertente no Grande Sertão", Revista de Letras da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, Vol . 16, 1974.
(10) Como já tem efetivamente ocorrido na crítica; cf., p. ex., CARDOSO, Wilton - "A estrutura da Composição em Guimarães Rosa", Ciclo de Conferências sobre Guimarães Rosa, Universidade Federal de Minas Gerais - Centro de Estudos Mineiros - Div. autores, Belo Horizonte, 1966, p. 47.
(11) SPINOSA, Êthique, trad. Appuhn, Paris, Garnier, 1958, II , prop. XXXV) escólio. Grifos nossos.
(12) SARTRE, J . P. - Situations I, Paris, Gallimard, 1947, p. 314 . Grifos nossos.
(13) JUNG, Psychologie et Religion, op. cit., p. 172. Grifos nossos.
(14) JUNG, L'Ame et la Vie, Paris , Buchet/Chastel, 1963, p. 281.
(15) A título de ilustração da natureza especialmente "teórica" de certas falas que - por este motivo - chamamos"textos teóricos", confronte-se, entre outros: pág. 39 (projeção, amor, inconsciente, função da linguagem, homem interior e exterior) ; pág. 59 (Deus, vida, multiplicidade, dôr, nascimento-morte, inferno-diabo, Céu-fim) ; pág. 81 ("antes" e "hoje", Chefia, condição humana-encantamento, projeção) ; pág. 90 (Diadorim, vingança, diabo, "caminho certo", viver) ; pág. 270 (natureza mítica de Zé Bebelo, julgamento, centro, Joca Ramiro e Zé Rebelo) ; pág. 275 (natureza de Diadorim) ; págs. 292 e sgs. (dos mais importantes, síntese contendo "chaves" para quase todos os temas codificados) ; pág. 455-6 (diabo, pacto inegação) ; pág. 456 (processo, ética).
(16) Guimarães Rosa, Carta a Dora Ferreira da Silva, 19.2.1958, Cavalo Azul n.º 3, op. cit., p. 33. Grifos nosos.
(17) Krolow, Karl - "Brasilianisches Epos - João Guimarães Rosa: Corps de Ballet", Süddeutsche Zeitung,Francforte/s/Meno, 8.12.1966.
(18) ROSA, João Guimarães - Tutaméia - Terceiras Estórias, 3.ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1969, p. 153.
(10) Como já tem efetivamente ocorrido na crítica; cf., p. ex., CARDOSO, Wilton - "A estrutura da Composição em Guimarães Rosa", Ciclo de Conferências sobre Guimarães Rosa, Universidade Federal de Minas Gerais - Centro de Estudos Mineiros - Div. autores, Belo Horizonte, 1966, p. 47.
(11) SPINOSA, Êthique, trad. Appuhn, Paris, Garnier, 1958, II , prop. XXXV) escólio. Grifos nossos.
(12) SARTRE, J . P. - Situations I, Paris, Gallimard, 1947, p. 314 . Grifos nossos.
(13) JUNG, Psychologie et Religion, op. cit., p. 172. Grifos nossos.
(14) JUNG, L'Ame et la Vie, Paris , Buchet/Chastel, 1963, p. 281.
(15) A título de ilustração da natureza especialmente "teórica" de certas falas que - por este motivo - chamamos"textos teóricos", confronte-se, entre outros: pág. 39 (projeção, amor, inconsciente, função da linguagem, homem interior e exterior) ; pág. 59 (Deus, vida, multiplicidade, dôr, nascimento-morte, inferno-diabo, Céu-fim) ; pág. 81 ("antes" e "hoje", Chefia, condição humana-encantamento, projeção) ; pág. 90 (Diadorim, vingança, diabo, "caminho certo", viver) ; pág. 270 (natureza mítica de Zé Bebelo, julgamento, centro, Joca Ramiro e Zé Rebelo) ; pág. 275 (natureza de Diadorim) ; págs. 292 e sgs. (dos mais importantes, síntese contendo "chaves" para quase todos os temas codificados) ; pág. 455-6 (diabo, pacto inegação) ; pág. 456 (processo, ética).
(16) Guimarães Rosa, Carta a Dora Ferreira da Silva, 19.2.1958, Cavalo Azul n.º 3, op. cit., p. 33. Grifos nosos.
(17) Krolow, Karl - "Brasilianisches Epos - João Guimarães Rosa: Corps de Ballet", Süddeutsche Zeitung,Francforte/s/Meno, 8.12.1966.
(18) ROSA, João Guimarães - Tutaméia - Terceiras Estórias, 3.ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1969, p. 153.
(19) Idem, p. 154. Grifos nossos.
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