KARL MARX
(1818 – 1883)
(TRAÇOS DE SUA VIDA E DE SUA OBRA)
Alder Júlio Ferreira Calado
ARCOVERDE/1983
(CENTENÁRIO DA MORTE DE MARX)
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Há cem anos, na Inglaterra
Morria um personagem
Conhecido em todo o mundo
Por seus feitos, sua mensagem
Karl Marx era seu nome
Judeu era de linhagem
Nascido na Alemanha
De família convertida
De judia a protestante
Logo cedo, de saída
Decidiu questionar
Os porquês de nossa vida
De família de recurso
(Seu pai era advogado)
Novo ainda conseguiu
Cursar universidade
Direito e Filosofia
Estudou bem à vontade
Como os jovens de seu tempo
Gostava de frequentar
Ambientes divertidos
E poesias recitar
Escreveu também poemas
Chegou a se apaixonar
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Foi nos
anos de quarenta
Do século
que já passou
Com seus
vinte e poucos anos
Bela
jovem desposou
Jenny Von
Westphallen
Cinco
filhos lhe doou
Nesse
tempo ele já tinha
Seus
estudos terminado
Até tese
defendido
E a
jornais se dedicado
Já tinha
livros escritos
E a
Engels se ligado.
Mudando-se
da Alemanha
Se estabelece
em Paris
Juntamente
com o Amigo
Mais
outros desse país
Discutindo
e enfrentando
As
ditaduras febris
No ano
quarenta e seis
Percebe
mais claramente
A ampla
dominação
E a
necessidade sente
De
unir-se à Liga dos Justos
Conclamando
muita gente
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Na Liga
dos Comunistas
Toma a
frente dos protestos
Com a
parceria de Engels
Vem a
lume o “Manifesto”
A favor
dos operários
Tendo
sido um grande gesto
Ao lado
dos operários
Como
líder é perseguido
Da
França, passa pra Bélgica
Da
burguesia é temido
Passa
muitas privações
Pela
família seguido
É em
Londres, finalmente
Que vai
ter um paradeiro
Pesquisando
sempre mais
O
Capital, por inteiro
Aos
sessenta e cinco anos
Dá o
suspiro derradeiro
Muita
gente se pergunta
Por que
Marx estudou tanto
Não
bastava só agir
Pra dar
fim ao nosso pranto?
Necessário
é conhecer
O que
está por trás do manto!
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Um motor
não se concerta
Futucando
em toda parte
Pode até
estragar mais
É preciso
ter a arte
E da
convivência humana
Marx foi
um baluarte
No seu
tempo, a opressão
Sobre os
pobres se abatia
Oitenta
por cento em baixo
Lá em
cima a burguesia
Sugando o
sangue do povo
Vivendo
de mordomia
Para bem
se aprofundar
Nas
razões desse sofrer
Baseou-se
na história
Da luta
pelo poder
Como foi
que os opressores
Tal
domínio vêm a ter
Descobriu,
já de começo
Que essa
luta é bem antiga
A partir
da Antiguidade
Uma
classe com outra briga
Para
escravizar uma parte
Lucrando
com essa intriga.
-5-
A
caminhada dos povos
De lutas
está marcada
De uma
classe contra a outra
Pra
fazê-la escravizada
Nosso
destino, porém
Aponta
melhor cartada
Até hoje
os entendidos
Não param
de contemplar
Todo o
drama desse mundo
Querendo
filosofar
Já é hora
e o momento
Desse
mundo transformar
Para uma
classe conseguir
Sobre as
outras dominar
Usa de
muito artifício
Trambiques
vem a passar
Tentando
passar “no laço”
A quem
nela se fiar
Não é só
na produção
Que ela
tenta engabelar
Nas
diversões, na escola
No rádio,
TV, no lar
Ela enfia
suas ideias
Pra todos
se acostumar
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É a tal
Ideologia
De que
Marx bem falou
Que num
povo dividido
Ela impõe
o seu valor
Sobre a
classe dominada
Dela
passa a ser ator
Se você
quiser saber
Um
exemplo eloquente
Veja como
os portugueses
Dominaram
a nossa gente
Dizendo
que tinha vindo
Do “bem”
lançar a semente...
Veja
agora, noutra esfera
Da atual
economia
O Delfim
baixa os salários
E a
“Globo”, com ironia
Entrevista
os empresários
Pra saber
como avaliam
Toda a
classe dos patrões
Quando
enfrenta o empregado
Tem mania
de dizer
O que é
“bom” pra seu criado
Besta é
este, se pensar
Que o
conselho é acertado...
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Um
instrumento importante
Que ele
nos deixou patente
Foi usar
a Dialética
Que nos
serviu como lente
No estudo
do Capital
Deixando
tudo presente
Seja na
economia
Ou no campo
social
É função
da burguesia
Enfeitar
o Capital
É aí que
a Dialética
Na raiz
demonstra o mal
Quando a
classe dominada
Não
aprende a ler a vida
Usando os
seus próprios olhos
Facilmente
é dividida
Pela
classe dominante
Com
diversões e comida
Muita
coisa que aprendemos
Pela
nossa convivência
Não serve
pra nossa causa
Pois é da
convivência
De nos
manter amarrados
A toda
essa indecência
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É dever
então primeiro
Exercer
com maestria
Uma nova
consciência
Dentro da
pedagogia
Que é
fiel à nossa classe
E não
segue a burguesia
Pra ter
essa consciência
Não é
preciso ser letrado
Qualquer
um de nós consegue
Ver o
certo e o errado
Se não
for pela cartilha
De quem
nos quer dominado
Mas
sozinho não se aprende
A ver com
exatidão
O que
presta e o que não presta
Para
nossa correção
Só nos
grupos, Companheiros
Está
nossa solução
Veja bem
o nosso exemplo
Se na
hora de plantar
Cai
doente o lavrador
Ele pode
então chamar
Amigos,
em mutirão
Pra uma
ajuda lhe prestar
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Mas se o
gado do patrão
Entra e
come o seu roçado
Qual a
ajuda que convém?
Tá na mão
do sindicato
Do
agricultor, é claro
Não do
grande patronato
Agora,
repare bem:
De quem
vamos recorrer
Se nos
falta terra e pão
Emprego,
casa e poder?
Aí só
mudando as leis
Para nos
favorecer.
Mas, quem
é que faz as leis?
São os
“home”, os deputados.
A que
classe eles pertencem?
A dos
privilegiados.
Salvo
algumas exceções,
Vão estar
do nosso lado?
Quem lhes
dá esse direito?
É através
da eleição.
Em vez de
votar em gente
De nossa
igual condição
Preferimos
muitas vezes
Ir votar
no tubarão
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Não é
estranho um doente
Buscar
remédio pra dor
Junto a
quem o tempo todo
Só veneno
receitou?
Que
podemos esperar
Desse
tipo de doutor?
Nos seus
estudos profundos
Marx bem
que concluía
Que se
não formos unidos
Pra
enfrentar a burguesia
'Inda
temos que amargar
Nossa
ação será vazia
Trabalhadores
unidos
Temos que
nos convencer
Que uma
força invencível
Enfrenta
qualquer poder
A
História nos ensina
Sua lição
vamos colher.
Quer
saber onde essa luta
Onde e
como bem vingou?
Comecemos
no Brasil
Quando o
gringo dominou
Os índios
não se renderam
Nem Zumbi
se entregou.
-11-
Quem é
livre não consegue
Aceitar o
cativeiro
Faz de
tudo ao seu alcance
Pra
livrar-se do embusteiro
Prefere
morrer lutando
Não se
acostuma em viveiro
Assim
mesmo aconteceu
À nossa
gente nativa
Até à
gota derradeira
Lutou pra
não ser cativa
Na
floresta ou nos quilombos
Permanece
sempre altiva
Nos
momentos libertários
Vividos por
nosso povo
Os pobres
também deixaram
Um
exemplo sempre novo
Como um
pinto que sai pra vida
Irrompendo
do seu ovo
A
República Guarani
Que por
mais de século e meio
Resistiu
à escravidão
Pois
havia no seu seio
Homens
livres de verdade
Grande
exemplo nos dar veio
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Liberdade
não é presente
Que,
bondoso, alguém nos dá
É
conquista, palmo a palmo
Isso
mesmo vem mostrar
A
libertação dos negros
Aqui e em
todo lugar
Canudos e
Contestado
Foram
duas experiências
De vida
em comunidade
Dos
pequenos benquerença
Em suas
lutas pela terra
Sofrem
muita violência
Assim foi
Caldeirão
No
Cangaço e outros mais
À procura
de justiça
Sem o que
não existe paz
São
iguais à sementeira
Os seus
frutos vêm atrás.
Essa luta
continua
Até hoje
é necessária
Pois a
nossa gente vive
Em
situação precária
E ninguém
aqui nasceu
Com
destino de ser pária
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Sendo
assim, trabalhadores
Os do
campo e os da cidade
Se reúnem
em sindicatos
Pra lutar
com lealdade
Pra que
um dia seus direitos
Se
respeitem de verdade
Nesses
últimos trinta anos,
Muita
coisa aconteceu
No
estrangeiro e no Brasil
É que o
mundo estremeceu
Basta ver
o que passou
Muito
sangue já correu.
Veja os
povos africanos
Quanto
exemplo ele nos dão
Não
fincando conformados
Sob tanta
exploração
Dizem
“basta” às ditaduras
Ao
Capital dizem “NÃO”.
A Argélia
e Moçambique
Tanzânia
e Guiné-Bissau
A Angola
de Agostinho
Que se
torna imortal
No
espírito do seu povo
Que tem
sido fraternal
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A Albânia
e Vietnam
Com
defeitos e coragem
A China
de Mao Tsé-Tung
Bem
merece uma homenagem
Sem falar
de outros povos
Também
têm sua mensagem
Na
América, temos Cuba
Que aqui
foi pioneira
Apesar
dos descaminhos
Sem
esquecer que é fronteira
De
governo imperial
Mas sai
vencendo, altaneira
Outro
exemplo é o de Granada
Nicarágua
tenta agora
E também
El Salvador
Mas a
luta 'inda demora
Recrudescem
as ditaduras
Mas não
tarda a sua hora.
Nosso
mundo já pressente
Que a
real fraternidade
Não vem
do Capitalismo
Condição
é me verdade
Lutar
pelo Socialismo
De base e
com liberdade.
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É preciso
saber quem
Nesta
luta desde já
Se
integra seriamente
Pra a
situação mudar
Quem vive
de mordomia
Não se
deve confiar
Não se
julgue uma pessoa
Se é boa
ou se é má
Por
aquilo que ela fala
É preciso
reparar
O que
faz, com quem convive
E de que
lado ela está
Outra
coisa necessária
É a gente
distinguir
O que
diz, do que se faz
Teoria e
prática unir
Se não,
fica enganador
Nosso
modo de agir
A
realidade mostra:
Um povo
religioso
É preciso
respeitar
Ele bem
que é cioso
Dessa sua
condição
Ter
presente isso é forçoso.
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Disso já
se dava conta
Um
marxista de valor
Chamava-se
Antônio Gramsci
Que era
um grande pensador
Apostando
na consciência
Do povo
trabalhador
Retomando
esses estudos
De cristã
inspiração
Muitos
vivem sua fé
Como um
móvel de ação
Se
esforçando e desejando
Do mundo
a transformação
Jesus
Cristo e Karl Marx
Não se
deve confundir
Têm
doutrinas diferentes
Ressalvar
desejo aqui
Ambos têm
pontos comuns
Um dos
quais é o povo unir
Almejando
que esses versos
Lhe
permitam entender
Das
rupturas a razão
Esse
“Marx” convém ler
Revivendo
o que Jesus
Já nos
fez compreender