O primeiro canto

O primeiro canto

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O Gato Preto- Allan Poe

Não tenho gato, mas se tivesse haveria de ser um gato preto. Um encanto! E por falar nesses bichanos, abaixo segue um conto muito legal. Do querido Allan Poe. 


Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã posso morrer e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e instruíram.
No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror _ mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum _ uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.
Desde a infância, tomaram-se patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura de meu coração era tão evidente, que me tomava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tomei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.
Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.
Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia freqüentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.
Pluto _ assim se chamava o gato _ era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.
Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento _ enrubesço ao confessá-lo _ sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tomava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher. No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência. Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzavam em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim _ que outro mal pode se comparar ao álcool? _ e, no fim, até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tomara um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.
Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade.
Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão _ dissipados já os vapores de minha orgia noturna, experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.
Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de um animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder-me final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano – uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma, de violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal, foi o que me levou a continuar e, afinal, a levar a cabo o suplício que infligira ao inofensivo animal. Uma manhã, a sangue frio, meti- lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado _ um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível.
Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de “fogo!”. As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, desde então, me entreguei ao desespero.
Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito – entre o desastre e a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo _ coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade, uma parte dela, As palavras “estranho!”, “singular!”, bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei- me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em tomo do pescoço do animal.
Logo que vi tal aparição, pois não poderia considerar aquilo como sendo outra coisa, o assombro e terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando- o, através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.
Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.
Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme _ tão grande quanto Pluto _ e que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo _ e o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.
Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes.
Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse _ detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tomando- se, logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher.
De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que – não sei como nem por quê _ seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos – muito gradativamente _ , passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.
Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros.
No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com uma pertinácia que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse. Sempre que me sentava, enrodilhava- se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para andar, metia-se-me entre as pernas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo _ apresso-me a confessá-lo _ , pelo pavor extremo que o animal me despertava.
Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar _ sim, mesmo nesta cela de criminoso _ , quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível _ que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa _, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer… E, sobretudo por isso, eu o encarava como a um monstro de horror e repugnância, do qual eu, se tivesse coragem, me teria livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!
Na verdade, naquele momento eu era um miserável _ um ser que ia além da própria miséria da humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído… uma besta- fera que se engendrara em mim, homem feito à imagem do Deus Altíssimo. Oh, grande e insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso _ encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim _ pousado eternamente sobre o meu coração!
Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos companheiros _ os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade _ e enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, freqüentes e irreprimíveis acessos de cólera, minha mulher – pobre dela! – não se queixava nunca convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas.
Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar, O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.
Realizado o terrível assassínio, procurei, movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos.
Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.
E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e tendo depositado o corpo, com cuidado, de encontro à parede interior. Segurei-o nessa posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em tomo, disse, de mim para comigo: “Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão”.
O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite _ e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranqüila e profundamente. Sim, dormi mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.
Transcorreram o segundo e o terceiro dia _ e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tomaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.
No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram- me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta a ponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair. O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tomar duplamente evidente a minha inocência.
_ Senhores _ disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada _ , é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída… (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade.) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes _ os senhores já se vão? _ , estas paredes são de grande solidez.
Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração.
Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.
Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos presentes.
Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!
Edgar Allan Poe

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Episódio do Inimigo - J.L. Borges


Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde.
Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse.
- Pensamos que os anos passam apenas para nós - disse-lhe -, mas passam também para os outros. Aqui nos encontramos, por fim, e o que aconteceu antes não tem sentido.
Enquanto eu falava, ele desabotoara o casaco. A mão direita estava no bolso do paletó. Assinalava-me algo e senti que era um revólver.
Disse-me então com voz firme:
- Para entrar em sua casa, recorri à compaixão. Agora o tenho a minha mercê e não sou misericordioso.
Ensaiei algumas palavras. Não sou um homem forte e só as palavras podiam salvar-me. Atinei a dizer:
- É verdade que há tempos maltratei um menino, mas você já não é aquele menino nem eu aquele insensato. Além disso, a vingança não é menos fátua e ridícula que o perdão.
- Justamente porque já não sou aquele menino - replicou-me - tenho de matá-lo. Não se trata de uma vingança, mas de um ato de justiça. Seus argumentos, Borges, são meros estratagemas de seu terror para que eu não o mate. Você não pode fazer mais nada.
- Posso fazer uma coisa - respondi.
- O quê? - perguntou-me.
- Acordar.
E foi o que fiz.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

“OS DIAS DA COMUNA” – Bertold Brecht



 

Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Consideramos que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos toma-lo
Considerando que ele nos aquecerá
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que o que o governo nos promete
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!

domingo, 10 de setembro de 2017

Karl Marx - Traços de sua vida e de sua obra




KARL MARX
(1818 – 1883)

(TRAÇOS DE SUA VIDA E DE SUA OBRA)


Alder Júlio Ferreira Calado


ARCOVERDE/1983
(CENTENÁRIO DA MORTE DE MARX)





-1-
Há cem anos, na Inglaterra
Morria um personagem
Conhecido em todo o mundo
Por seus feitos, sua mensagem
Karl Marx era seu nome
Judeu era de linhagem

Nascido na Alemanha
De família convertida
De judia a protestante
Logo cedo, de saída
Decidiu questionar
Os porquês de nossa vida

De família de recurso
(Seu pai era advogado)
Novo ainda conseguiu
Cursar universidade
Direito e Filosofia
Estudou bem à vontade

Como os jovens de seu tempo
Gostava de frequentar
Ambientes divertidos
E poesias recitar
Escreveu também poemas
Chegou a se apaixonar

-2-
Foi nos anos de quarenta
Do século que já passou
Com seus vinte e poucos anos
Bela jovem desposou
Jenny Von Westphallen
Cinco filhos lhe doou

Nesse tempo ele já tinha
Seus estudos terminado
Até tese defendido
E a jornais se dedicado
Já tinha livros escritos
E a Engels se ligado.

Mudando-se da Alemanha
Se estabelece em Paris
Juntamente com o Amigo
Mais outros desse país
Discutindo e enfrentando
As ditaduras febris

No ano quarenta e seis
Percebe mais claramente
A ampla dominação
E a necessidade sente
De unir-se à Liga dos Justos
Conclamando muita gente

-3-
Na Liga dos Comunistas
Toma a frente dos protestos
Com a parceria de Engels
Vem a lume o “Manifesto”
A favor dos operários
Tendo sido um grande gesto

Ao lado dos operários
Como líder é perseguido
Da França, passa pra Bélgica
Da burguesia é temido
Passa muitas privações
Pela família seguido

É em Londres, finalmente
Que vai ter um paradeiro
Pesquisando sempre mais
O Capital, por inteiro
Aos sessenta e cinco anos
Dá o suspiro derradeiro

Muita gente se pergunta
Por que Marx estudou tanto
Não bastava só agir
Pra dar fim ao nosso pranto?
Necessário é conhecer
O que está por trás do manto!

-4-
Um motor não se concerta
Futucando em toda parte
Pode até estragar mais
É preciso ter a arte
E da convivência humana
Marx foi um baluarte

No seu tempo, a opressão
Sobre os pobres se abatia
Oitenta por cento em baixo
Lá em cima a burguesia
Sugando o sangue do povo
Vivendo de mordomia

Para bem se aprofundar
Nas razões desse sofrer
Baseou-se na história
Da luta pelo poder
Como foi que os opressores
Tal domínio vêm a ter

Descobriu, já de começo
Que essa luta é bem antiga
A partir da Antiguidade
Uma classe com outra briga
Para escravizar uma parte
Lucrando com essa intriga.

-5-
A caminhada dos povos
De lutas está marcada
De uma classe contra a outra
Pra fazê-la escravizada
Nosso destino, porém
Aponta melhor cartada

Até hoje os entendidos
Não param de contemplar
Todo o drama desse mundo
Querendo filosofar
Já é hora e o momento
Desse mundo transformar

Para uma classe conseguir
Sobre as outras dominar
Usa de muito artifício
Trambiques vem a passar
Tentando passar “no laço”
A quem nela se fiar

Não é só na produção
Que ela tenta engabelar
Nas diversões, na escola
No rádio, TV, no lar
Ela enfia suas ideias
Pra todos se acostumar 

-6-
É a tal Ideologia
De que Marx bem falou
Que num povo dividido
Ela impõe o seu valor
Sobre a classe dominada
Dela passa a ser ator

Se você quiser saber
Um exemplo eloquente
Veja como os portugueses
Dominaram a nossa gente
Dizendo que tinha vindo
Do “bem” lançar a semente...

Veja agora, noutra esfera
Da atual economia
O Delfim baixa os salários
E a “Globo”, com ironia
Entrevista os empresários
Pra saber como avaliam

Toda a classe dos patrões
Quando enfrenta o empregado
Tem mania de dizer
O que é “bom” pra seu criado
Besta é este, se pensar
Que o conselho é acertado...

-7-
Um instrumento importante
Que ele nos deixou patente
Foi usar a Dialética
Que nos serviu como lente
No estudo do Capital
Deixando tudo presente

Seja na economia
Ou no campo social
É função da burguesia
Enfeitar o Capital
É aí que a Dialética
Na raiz demonstra o mal

Quando a classe dominada
Não aprende a ler a vida
Usando os seus próprios olhos
Facilmente é dividida
Pela classe dominante
Com diversões e comida

Muita coisa que aprendemos
Pela nossa convivência
Não serve pra nossa causa
Pois é da convivência
De nos manter amarrados
A toda essa indecência

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É dever então primeiro
Exercer com maestria
Uma nova consciência
Dentro da pedagogia
Que é fiel à nossa classe
E não segue a burguesia

Pra ter essa consciência
Não é preciso ser letrado
Qualquer um de nós consegue
Ver o certo e o errado
Se não for pela cartilha
De quem nos quer dominado

Mas sozinho não se aprende
A ver com exatidão
O que presta e o que não presta
Para nossa correção
Só nos grupos, Companheiros
Está nossa solução

Veja bem o nosso exemplo
Se na hora de plantar
Cai doente o lavrador
Ele pode então chamar
Amigos, em mutirão
Pra uma ajuda lhe prestar

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Mas se o gado do patrão
Entra e come o seu roçado
Qual a ajuda que convém?
Tá na mão do sindicato
Do agricultor, é claro
Não do grande patronato

Agora, repare bem:
De quem vamos recorrer
Se nos falta terra e pão
Emprego, casa e poder?
Aí só mudando as leis
Para nos favorecer. 

Mas, quem é que faz as leis?
São os “home”, os deputados.
A que classe eles pertencem?
A dos privilegiados.
Salvo algumas exceções,
Vão estar do nosso lado?

Quem lhes dá esse direito?
É através da eleição.
Em vez de votar em gente
De nossa igual condição
Preferimos muitas vezes
Ir votar no tubarão

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Não é estranho um doente
Buscar remédio pra dor
Junto a quem o tempo todo
Só veneno receitou?
Que podemos esperar
Desse tipo de doutor?

Nos seus estudos profundos
Marx bem que concluía
Que se não formos unidos
Pra enfrentar a burguesia
'Inda temos que amargar
Nossa ação será vazia

Trabalhadores unidos
Temos que nos convencer
Que uma força invencível
Enfrenta qualquer poder
A História nos ensina
Sua lição vamos colher.

Quer saber onde essa luta
Onde e como bem vingou?
Comecemos no Brasil
Quando o gringo dominou
Os índios não se renderam
Nem Zumbi se entregou.

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Quem é livre não consegue
Aceitar o cativeiro
Faz de tudo ao seu alcance
Pra livrar-se do embusteiro
Prefere morrer lutando
Não se acostuma em viveiro

Assim mesmo aconteceu
À nossa gente nativa
Até à gota derradeira
Lutou pra não ser cativa
Na floresta ou nos quilombos
Permanece sempre altiva

Nos momentos libertários
Vividos por nosso povo
Os pobres também deixaram
Um exemplo sempre novo
Como um pinto que sai pra vida
Irrompendo do seu ovo

A República Guarani
Que por mais de século e meio
Resistiu à escravidão
Pois havia no seu seio
Homens livres de verdade
Grande exemplo nos dar veio

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Liberdade não é presente
Que, bondoso, alguém nos dá
É conquista, palmo a palmo
Isso mesmo vem mostrar
A libertação dos negros
Aqui e em todo lugar

Canudos e Contestado
Foram duas experiências
De vida em comunidade
Dos pequenos benquerença
Em suas lutas pela terra
Sofrem muita violência

Assim foi Caldeirão
No Cangaço e outros mais
À procura de justiça
Sem o que não existe paz
São iguais à sementeira
Os seus frutos vêm atrás.

Essa luta continua
Até hoje é necessária
Pois a nossa gente vive
Em situação precária
E ninguém aqui nasceu
Com destino de ser pária

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Sendo assim, trabalhadores
Os do campo e os da cidade
Se reúnem em sindicatos
Pra lutar com lealdade
Pra que um dia seus direitos
Se respeitem de verdade

Nesses últimos trinta anos,
Muita coisa aconteceu
No estrangeiro e no Brasil
É que o mundo estremeceu
Basta ver o que passou
Muito sangue já correu.

Veja os povos africanos
Quanto exemplo ele nos dão
Não fincando conformados
Sob tanta exploração
Dizem “basta” às ditaduras
Ao Capital dizem “NÃO”.

A Argélia e Moçambique
Tanzânia e Guiné-Bissau
A Angola de Agostinho
Que se torna imortal
No espírito do seu povo
Que tem sido fraternal

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A Albânia e Vietnam
Com defeitos e coragem
A China de Mao Tsé-Tung
Bem merece uma homenagem
Sem falar de outros povos
Também têm sua mensagem

Na América, temos Cuba
Que aqui foi pioneira
Apesar dos descaminhos
Sem esquecer que é fronteira
De governo imperial
Mas sai vencendo, altaneira

Outro exemplo é o de Granada
Nicarágua tenta agora
E também El Salvador
Mas a luta 'inda demora
Recrudescem as ditaduras
Mas não tarda a sua hora.

Nosso mundo já pressente
Que a real fraternidade
Não vem do Capitalismo
Condição é me verdade
Lutar pelo Socialismo
De base e com liberdade.

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É preciso saber quem
Nesta luta desde já
Se integra seriamente
Pra a situação mudar
Quem vive de mordomia
Não se deve confiar

Não se julgue uma pessoa
Se é boa ou se é má
Por aquilo que ela fala
É preciso reparar
O que faz, com quem convive
E de que lado ela está

Outra coisa necessária
É a gente distinguir
O que diz, do que se faz
Teoria e prática unir
Se não, fica enganador
Nosso modo de agir

A realidade mostra:
Um povo religioso
É preciso respeitar
Ele bem que é cioso
Dessa sua condição
Ter presente isso é forçoso.

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Disso já se dava conta
Um marxista de valor
Chamava-se Antônio Gramsci
Que era um grande pensador
Apostando na consciência
Do povo trabalhador

Retomando esses estudos
De cristã inspiração
Muitos vivem sua fé
Como um móvel de ação
Se esforçando e desejando
Do mundo a transformação

Jesus Cristo e Karl Marx
Não se deve confundir
Têm doutrinas diferentes
Ressalvar desejo aqui
Ambos têm pontos comuns
Um dos quais é o povo unir

Almejando que esses versos
Lhe permitam entender
Das rupturas a razão
Esse “Marx” convém ler
Revivendo o que Jesus
Já nos fez compreender