Outono, antes do anoitecer do dia 13
Viejo, como andas?
Escrevo rápido e sem escolher bem as
palavras. Escuto mais uma vez o Einaudi, do disco que tu esquecestes. Penso que
irias gostar deste tempo. Estou aqui na varanda, vejo a tua árvore. Da última
vez que a vistes, era primavera. Ela está linda, emoldurada com o adeus do dia.
Sei que a distância é grande, mas sinto
tanto a tua presença. Hoje, uma vez mais, li a tua carta. Capaz de pensar que
ando a arquivar na alma cada palavra. Não te rias...
Acreditas que a cada leitura, e olha que
passa de algumas dúzias, encontro novos sentidos para as palavras que já andam
a envelhecer? Pois, se digo isto, faço o uso da verdade. Sinto muito não ter respondido com a urgência
solicitada, mas o tempo por aqui anda mais curto que no restante doutros
lugares.
Gostaria tanto de ter contigo ainda nesta
estação, apesar disso, parece que esse desejo é coisa para mais um par de
tempo. E não te atrevas a dizer que é por minha culpa. Sabes muito bem do meu desejo
de ver-te, mas as pernas são curtas e ainda não surgiu nenhum 'gênio' da lâmpada.
Sei que sou, muitas vezes, inflexível com
minhas ações. E sei, ainda mais, que não consegues compreender a todas. Reconheço
que não sou pessoa de fácil entendimento. No entanto, importante que saibas: amo-o
muito, muito. Nos últimos tempos, esse amor, nutrido pela saudade, cresce. Sei bem, quando estamos juntos, nosso convívio não é fácil. Contudo, temos lá nossos momentos
de ternura. Leveza...
Imagino que agora deves rir das minhas afloradas
sensibilidades. Não importa, só por hoje, vou ignorar.
A verdade é que ando muito cansada. É
tanto a ser feito, e a penúria de tempo, recurso, a rondar como fantasma. Mas
como tu diz: uma coisa por tempo.
Vá saber por que escrevo estas palavras
pintadas de emoção. Talvez a poesia sirva-me como defensora e tal qual o poeta,
posso dizer que a lua, o conhaque, botam a gente comovido como o diabo.
Lembro-me, nesta hora, do teu sorriso. Da
tua cara amuada quando bombardeio as tuas ideias. Até disso sinto falta. Oh...
Ah, quase esquecia. Encontrei o livro
que te prometi. Mando junto com essas palavras. Não te ofendas, mas destaquei
umas linhas que encontrei no meio das páginas. Deixo-te como despedida. E não
te esqueças, espero vê-lo em breve. Aguardo a tua companhia por estes campos.
Mando também uma música do Einaudi, a que escuto agora.
Um abraço, meu amigo querido. Meu pai. Meu Viejo.
“Estes são os alicerces da nossa razão e
da nossa força, este é o muro por trás do qual nos foi possível defender, até
aos dias de hoje, quer a nossa identidade quer a nossa autonomia. Assim temos
continuado. E assim continuaríamos se novas reflexões não nos viessem apontar a
necessidade de novos caminhos” Saramago- Todos os Nomes.