O primeiro canto

O primeiro canto

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Allende e Neruda

E hoje, 11 de setembro, quarenta e sete  anos sem Allende. E já no próximo dia 23, também a mesma estação sem Neruda. E o Chile tem muito para homenagear... A bem da verdade, não só os chilenos. Todos que admiram e foram contagiados por esses dois homens. 


Pablo Neruda, em Confesso que vivi:

"Escrevo essas rápidas linhas para minhas memórias a apenas três dias dos fatos inqualificáveis que levaram à morte meu grande companheiro, o presidente Allende. Seu assassinato foi mantido em silêncio, foi enterrado secretamente, permitiram apenas à viúva acompanhar o imortal cadáver. A versão dos agressores é que acharam o seu corpo inerte, com mostras visíveis de suicídio. A versão que foi publicada no exterior é diferente. Após o bombardeio aéreo vieram os tanques, muitos tanques, para lutar intrepidamente contra um só homem: o presidente da República do Chile, Salvador Allende, que os esperava em seu gabinete, sem outra companhia a não ser seu grande coração envolto em fumaça e chamas.
Não podiam perder uma ocasião tão boa. Era preciso metralhá-lo porque jamais renunciaria a seu cargo. Aquele cadáver que foi para a sepultura acompanhado por uma única mulher, que levava em si mesma toda a dor do mundo, aquela gloriosa figura morta ia crivada e despedaçada pelas balas das metralhadoras dos soldados do Chile, que outra vez tinham atraiçoado o Chile."