O primeiro canto

O primeiro canto

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Tresloucada Firmina

Anton Semenov 

Firmina andava mal naquela manhã de primavera. De um lado a outro, passeava com seu contaminado espírito. Não sabia em absoluto o diagnóstico do mal que a afligia.
Diziam que respirara a fala de um moribundo e agora padecia de enigmática enfermidade. No entanto, sentia-se melhor quando bebia romantismo alemão, mas os ingleses também consolavam sua vida.
Alguém recomendou qualquer leitura que abarcasse o existencialismo. Doses fortes, todos os dias. Mas a louca já bebia da existência... De Profundis.
Nalguns momentos, a mulher tentava escrever. Contudo, desaguar incoerências pelas pontas dos dedos, não era lugar de queda - apesar do desejo.
Desabava, isso sim, por horas, na leitura da vida de personagens com alma - literatura, vício demoníaco, que abraçava seu corpo como um câncer. A criatura também passava seus dias lembrando-se de pessoas, momentos vividos... .
Parecia um fantasma, a vaguear ausência de coesão e excesso de denotação. Falando alto, chorando silêncios. Calando o que precisava ser dito. Pensando nas palavras ouvidas, ou omitidas  - sintomas de um peito corrompido, uma mente doente.
Tresloucada Firmina, pensava que a finitude era a dor mais poderosa. Pobre criatura, a viver no inferno nostálgico da existência. Desejando o impossível. Sentindo paixões nunca correspondidas. Insistindo num caminho de frustrações...
Escrava do crepúsculo, maldição!