"Aqui não há ódio. O ódio não nos motiva.
Nosso testemunho integra-se ao espírito da dignidade. Um antigo provérbio diz: 'Qem se lembrar do passado tem que
perder um olho. Quem o esquecer, os dois'. Move-nos, a todos, o sentimento desesperado de que as bestas permaneçam em suas
tocas, para que no Uruguai de Todos (também deles, em seus respectivos lugares)
seja hasteada a seguinte bandeira: NUNCA
MAIS."
***
O testemunho desses homens, sem o ódio que seria compreensível, é validado pela
vida que viveram depois da libertação dos calabouços. Compromisso com os ideais
que orientaram e guiam suas vidas. Tiveram que resistir aos sofrimentos do
corpo e da alma. Tiveram que enfrentar fantasmas... Suportaram anos de tortura,
isolamento e situações que muitos não conseguiram suportar. E nem por isso são
melhores. O olhar de solidariedade aos que sucumbiram é uma marca da capacidade
que temos de compreender a humanidade que há em nós. No caso deles, a
capacidade de analisar inclusive o contexto social, psicológico, de seus
algozes.
"Uma noite de 12 anos" foi
baseado nesse livro. O filme em si é capaz de mostrar o horror que esses homens
viveram. O amargo tempo de quase desesperança. Ainda assim, o livro nos revela
que o inferno foi mais profundo. Não obstante, através de suas vidas, aprendemos que é possível experimentar
humilhações brutais e, apesar disso, podemos (precisamos!) recrutar
internamente a força necessária para que isso não nos destrua.
Por fim, outra grande lição, a maior inspiração que esses testemunhos carregam,
é de que:
"Quando tudo, tudo
é hostil e mesmo quando querem entrar em sua consciência, com as unhas sujas, o
refugio dentro de si mesmo é uma conquista. Dia a dia é necessário lutar."
"Porque um dos princípios que tínhamos era resistir, mas resistir com
dignidade."