O primeiro canto

O primeiro canto

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Simón Bolívar- Inti Illimani


Simón Bolívar
(Inti Illimani)

Simón Bolívar, Simón,
caraqueño americano,
el suelo venezolano
le dio la fuerza a tu voz.
Simón Bolívar, Simón,
nació de tu Venezuela
y por todo el tiempo vuela
como candela tu voz.
Como candela que va
señalando un rumbo cierto
en este suelo cubierto
de muertos con dignidad.

Simón Bolívar, Simón,
revivido en las memorias
que abrió otro tiempo la historia,
te espera el tiempo Simón.
Simón Bolívar, razón,
razón del pueblo profunda,
antes que todo se hunda
vamos de nuevo Simón.
Simón Bolívar, Simón,
en el sur la voz amiga,
es la voz de José Artigas
que también tenía razón.

O general em seu labirinto



O General em seu labirinto narra os últimos dias de Simón Bolívar
Por Alexandre Barbosa

Hoje, ao olhar as bandeiras da Venezuela, da Colômbia e do Equador um observador pouco atento pode ver as semelhanças nas listras e não perceber que talvez um dia todas essas nações possam ter sido uma só. A idéia de unidade latino-americana parece ainda mais distante ao ler notícias das farpas trocadas entre os presidentes ou sobre as cíclicas crises que vivem os países da América do Sul.
José Antonio de la Santísima Trinidad Simón Bolívar y Palacios, o Simón Bolivar (1783-1830), sonhou um dia com uma nação unida e independente. O General em seu Labirinto, do autor colombiano Gabriel García Márquez, conta os últimos dias desse sonho e mostra que, apesar da tuberculose, a verdadeira causa da morte do Libertador foram as mesmas cegueiras que as elites latino-americanas insistem em manter.

Quem foi Simón Bolívar

Nascido na aristocracia criolla venezuelana, Bolívar só se desenvolve como um revolucionário latino-americano a partir de 1795, depois da morte dos pais quando muda para a casa de seu mestre Simón Rodriguez.
Em 15 de agosto de 1805, depois de assistir à chegada ao poder de Napoleão, faz o famoso juramento do Monte Sacro em que promete libertar a América do domínio espanhol. De fato, pelos anos seguintes todos os esforços são, não só para conquistar a independência, mas para fazer da América uma só nação. A primeira experiência de guerra foi em 23 de julho de 1811 ainda sob as ordens de Francisco Miranda. Em 24 de dezembro de 1812, Bolívar inicia a campanha do Rio Magdalena, na atual Colômbia, que na época se chamava Nova Granada. Em 14 de outubro de 1813, depois de uma entrada triunfal em Caracas, Venezuela, o Conselho de Caracas, em assembléia pública aclama Bolívar como general e Libertador.

Em 1823, o Peru pede ajuda a Bolívar para auxiliar no processo de independência. Em 1824 são travadas as batalhas finais: 06 de agosto, em Junín; 5 de dezembro, libertação de Lima. No dia 9 de dezembro, Sucre vence a batalha de Ayacucho que marca a liberdade de toda a América espanhola. Bolívar recusa o 1 milhão de pesos oferecido pelo Congresso do Peru mas aceita a mesma quantia que correspondia a seus soldados. Também renuncia à presidência com poderes ilimitados. Em 6 de agosto, a assembléia do Alto Peru decide a criação da República da Bolívia e em 25 de maio de 1826 envia o projeto de constituição boliviana.As lutas seguem na parte setentrional da América do Sul, enquanto que, mais ao sul, o general San Martí também segue na luta pela independência da Argentina e do Chile. Em 17 de dezembro de 1819 cria a república da Colômbia, da qual é eleito presidente.então dividida em três departamentos: Venezuela, Cundinamarca e Quito. Em 16 de junho de 1822, Bolívar faz a entrada triunfal em Quito, ao lado do que ele mesmo considerava seu sucessor, o marechal Sucre. Também em Quito Bolívar conhece Manuela Sáenz, que foi sua grande companheira.

O fim do sonho da unidade latino-americana

Depois das glórias, as nações independentes têm de iniciar o processo de construção da república e começa a agonia de Bolívar. A partir de 1827, as elites de cada nação libertada iniciam as mesmas discussões vistas hoje, no século XXI. Guerras civis, resistência em dividir o poder e fazer concessões ao povo, tomada de empréstimos da Inglaterra e dos EUA. Em 25 de setembro de 1828, Bolívar, que insistia na unidade das nações, sofre um atentado e é salvo por Manuela Sáenz. Em 8 de maio de 1830, depois de assistir ao desmembramento dos países, Bolívar sai de Bogotá pelo rio Magdalena com o intuito de se exilar, já sofrendo com a tuberculose.
É nesta data que começa o livro de García Márquez. Bolívar está triste com as guerras civis e mais ainda com corrupção e desleixo com os bens públicos promovidos pelos novos mandatários, como mostra o seguinte trecho.

"Sábado ocho de mayo del año treinta, día de la Santísima Virgen, medianera de todas las gracias", anunció el mayordomo. "Está llovendo desde la tres de la madrugada"

"Desde las tres de la madrugada el siglo diecisiete", dijo el general con la voz todavía perturbada por el aliento acre del insomnio. Y agregó en serio: "No oí los gallos".

"Aquí no hay gallos", dijo José Palacios".

"No hay nada", dijo el general. "Es tierra de infieles".

O livro de García Márquez conta os episódios da viagem pelo Rio Magdalena até a morte do libertador no dia 17 de dezembro. Feito a partir de documentos recolhidos e cartas de Bolíviar, Márquez mostra que, depois da independência, as jovens nações latino-americanas iniciaram um processo cíclico de guerras civis, corrupção e subserviência às nações européias e à emergente nação norte-americana. 

Simón Bolívar foi hostilizado nos seus últimos dias. Hoje, as nações lhe rendem estátuas e homenagens, mas falharam em apoiar suas idéias num momento crucial, que poderia ter mudado o destino trágico da América Latina nos próximos anos.


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A “caça às bruxas”: uma interpretação feminista


 Rosângela Angelin

A “caça às bruxas é um elemento histórico da Idade Média. Entre os séculos XV e XVI o “teocentrismo” – Deus como o centro de tudo – decai dando lugar ao “antropocentrismo“, onde o ser humano passa a ocupar o centro. Assim, a arte, a ciência e a filosofia desvincularam-se cada vez mais da teologia cristã, conduzindo, com isso a uma instabilidade e descentralização do poder da Igreja. Como uma forma de reconquistar o centro das atenções e o poder perdido, a Igreja Católica instaurou os “Tribunais da Inquisição”, efetivando-se assim a  “caça às bruxas“. Mas quem eram, enfim, estas mulheres que fizeram parte de um capítulo tão horrendo da história da humanidade, e por que o feminismo retoma as bruxas como um dos seus principais símbolos?

1. A “caça às bruxas”

A “caça às bruxas” durou mais de quatro séculos e ocorreu, principalmente, na Europa, iniciando-se, de fato,em 1450 e tendo seu fim somente por volta de 1750, com a ascensão do Iluminismo. A “caça às bruxas” admitiu diferentes formas, dependendo das regiões em que ocorreu, porém, não perdeu sua característica principal: uma massiva campanha judicial realizada pela Igreja e pela classe dominante contra as mulheres da população rural (EHRENREICH & ENGLISH, 1984: 10). Essa campanha foi assumida  tanto pela Igreja Católica, como a Protestante e até pelo próprio Estado, tendo um significado religioso, político e sexual. Estima-se que aproximadamente 9 milhões de pessoas foram acusadas, julgadas e mortas neste período, onde mais de 80% eram mulheres, incluindo crianças e moças que haviam “herdado este mal” (MENSCHIK, 1977: 132).

1.1. Quem eram as bruxas

Ao buscarmos uma definição do termo “bruxa” em dicionários, logo pode-se perceber a direta vinculação com uma figura maléfica, feia e perigosa. Neste sentido, também os livros infanto-juvenis costumam descrever histórias onde existe uma fada boa e linda e uma bruxa má e horrível.[1]
Ao analisarmos o contexto histórico da Idade Média, vemos que bruxas eram as parteiras, as enfermeiras e as assistentes. Conheciam e entendiam sobre o emprego de plantas medicinais para curar enfermidades e epidemias nas comunidades em que viviam e, conseqüentemente, eram portadoras de um elevado poder social. Estas mulheres eram, muitas vezes, a única possibilidade de atendimento médico para mulheres e pessoas pobres. Elas foram por um longo período médicas sem título. Aprendiam o ofício umas com as outras e passavam esse conhecimento para suas filhas, vizinhas e amigas.
Segundo afirmam EHERENREICH & ENGLISH (1984, S. 13), as bruxas não surgiram espontaneamente, mas foram fruto de uma campanha de terror realizada pela classe dominante. Poucas dessas mulheres realmente pertenciam à bruxaria, porém, criou-se uma histeria generalizada na população, de forma que muitas das mulheres acusadas passavam a acreditar que eram mesmo bruxas e que possuíam um “pacto com o demônio”.
O estereótipo das bruxas era caracterizado, principalmente, por mulheres de aparência desagradável ou com alguma deficiência física, idosas, mentalmente perturbadas, mas também por mulheres bonitas que haviam ferido o ego de poderosos ou que despertavam desejos em padres celibatários ou homens casados.

1.2. A “caça às bruxas e o “Tribunal da Inquisição”

Com a ascensão da Igreja Católica, o patriarcado imperou, até mesmo porque Jesus era um homem. Neste contexto, tudo o que a mulher tentava realizar, por conta própria, era visto como uma imoralidade (ALAMBERT, Ano II: 7). Os costumes pagãos que adoravam deuses e deusas, passaram a ser considerados uma ameaça. Em 1233, o papa Gregório IX instituiu o Tribunal Católico Romano, conhecido como “Inquisição” ou “Tribunal do Santo Ofício”, que tinha o objetivo de terminar com a heresia e com os que não praticavam o catolicismo. Em 1320 a Igreja declarou oficialmente que a bruxaria e a antiga religião dos pagãos representavam uma ameaça ao cristianismo, iniciando-se assim, lentamente, a perseguição aos hereges.
A “caça às bruxas” coincidiu com grandes mudanças sociais em curso na Europa. A nova conjuntura gerou instabilidade e descentralização no poder da Igreja. Além disso, a Europa foi assolada neste período por muitas guerras, cruzadas, pragas e revoltas camponesas, e se buscava culpados para tudo isso. Sendo assim, não foi difícil para a Igreja encontrar motivos para a perseguição das bruxas.
Para reconquistar o centro das atenções e o poder, a Igreja Católica efetivou a conhecida “caça às bruxas”. Com o apoio do Estado, criou tribunais, os chamados “Tribunais da Inquisição” ou “Tribunais do Santo Ofício”, os quais perseguiam, julgavam e condenavam todas as pessoas que representavam algum tipo de ameaça às doutrinas cristãs. As penas variavam entre a prisão temporária até a morte na fogueira. Em 1484 foi publicado pela Igreja Católica o chamado “Malleus Maleficarum”, mais conhecido como “Martelo das Bruxas”. Este livro continha uma lista de requerimentos e indícios para se condenar uma bruxa. Em uma de suas passagens, afirmava claramente, que as mulheres deveriam ser mais visadas neste processo, pois estas seriam, “naturalmente”, mais propensas às feitiçarias (MENSCHIK, 1977: 132 e EHRENREICH & ENGLISH, 1984: 13).

1. 3. Os “crimes” praticados pelas bruxas

No contexto da “caça às bruxas” haviam várias acusações contra as mulheres. As vítimas eram acusadas de praticar crimes sexuais contra os homens, tendo firmado um “pacto como demônio”. Também eram culpadas por se organizarem em grupos – geralmente reuniam-se para trocar conhecimentos acerca de ervas medicinais, conversar sobre problemas comuns ou notícias. Outra acusação levantada contra elas, era de que possuíam “poderes mágicos”, os quais provocavam problemas de saúde na população, problemas espirituais e catástrofes naturais (EHRENREICH & ENGLISH, 1984: 15).
Além disso, o fato dessas mulheres usarem seus conhecimentos para a cura de doenças e epidemias ocorridas em seus povoados, acabou despertando a ira da instituição médica masculina em ascensão, que viu na Inquisição um bom método de eliminar as suas concorrentes econômicas, aliando-se a ela.

1.4. Perseguição e condenação à fogueira

Qualquer pessoa podia ser denunciada ao “Tribunal da Inquisição”. Os suspeitos, em sua grande maioria mulheres, eram presos e considerados culpados até provarem sua inocência. Geralmente, não podiam ser mortos antes de confessarem sua ligação com o demônio. Na busca de provas de culpabilidade ou a confissão do crime, eram utilizados procedimentos de tortura como: raspar os pêlos de todo o corpo em busca de marcas do diabo, que podiam ser verrugas ou sardas; perfuração da língua; imersão em água quente; tortura em rodas; perfuração do corpo da vítima com agulhas, na busca de uma parte indolor do corpo, parte esta que teria sido “tocada pelo diabo”; surras violentas; estupros com objetos cortantes; decapitação dos seios. A intenção era torturar as vítimas até que assinassem confissões preparadas pelos inquisitores. Geralmente, quem sustentava sua inocência, acabava sendo queimada viva. Já as que confessavam, tinham uma morte mais misericordiosa: eram estranguladas antes de serem queimadas. Em alguns países, como Alemanha e França, eram usadas madeiras verdes nas fogueiras para prorrogar o sofrimento das vítimas. E, na Itália e Espanha, as bruxas eram sempre queimadas vivas. Os postos de caçadores de bruxas e informantes eram financeiramente muito rentáveis. Estes, eram pagos pelo Tribunal por condenação ocorrida e os bens dos condenados eram todos confiscados.
O fim da “caça às bruxas” ocorreu somente no século XVIII, sendo que a última fogueira foi acesa em 1782, na Suíça. Porém, a Lei da Igreja Católica que fundou os “Tribunais da Inquisição”, permaneceu em vigor até meados do século XX. A “caça às bruxas” foi, sem dúvida, um processo bem organizado, financiado e realizado conjuntamente pela Igreja e o Estado.[2]

2. O feminismo e o resgate da imagem das bruxas

Diante de tantas mortes de mulheres acusadas por bruxaria durante este período, podemos afirmar que o ocorrido se tratou de um verdadeiro genocídio contra o sexo feminino, com a finalidade de manter o poder da Igreja e punir as mulheres que ousavam manifestar seus conhecimentos médicos, políticos ou religiosos. Existem registros de que, em algumas regiões da Europa a bruxaria era compreendida como uma revolta de camponeses conduzida pelas mulheres (EHRENREICH & ENGLISH, 1984: 12). Nesse contexto político, pode-se citar a camponesa Joana D`arc, que aos 17 anos, em 1429, comandou o exército francês, lutando contra a ocupação inglesa. Esta acabou sendo julgada como feiticeira e herege pela Inquisição e queimada na fogueira antes de completar 20 anos. Diante disso, configurava-se a clara intenção da classe dominante em conter um avanço da atuação destas mulheres e em acabar com seu poder na sociedade, a tal ponto que se utilizava meios de simplesmente exterminá-las.
O feminismo busca resgatar a verdadeira imagem das bruxas em nossa história, analisando não somente os aspectos religiosos, mas também políticos e sociais que envolveram a “caça às bruxas” na Idade Média. No olhar feminista, as bruxas, através de seus conhecimentos medicinais e sua atuação em suas comunidades, exerciam um contra-poder, afrontando o patriarcado e, principalmente, o poder da Igreja. Em verdade, elas nada mais foram do que vítimas do patriarcado (ALAMBERT, Ano II, n° 48: 7). Atualmente, as mulheres ainda continuam sendo discriminadas e duramente criticadas por lutarem pela igualdade de gênero e a divisão do poder social e econômico, que ainda é predominantemente masculino, continuando vítimas do patriarcado. Por isto, as bruxas representam para o movimento feminista não somente resistência, força, coragem, mas também a rebeldia na busca de novos horizontes emancipadores.

Bibliografia

ALAMBERT, Zuleika. Por uma nova imagem. Educação & Cultura – Diário Comercial, Ano II, n° 48.
EHRENREICH, Barbara & ENGLISH, Deirdre. Hexen, Hebammen und Krankenschwestern. 11. Auflage. München: Frauenoffensive, 1984.
MENSCHIK, Jutta. Feminismus, Geschichte, Theorie und Praxis. Köln: Verlag Pahl-Rugenstein, 1977.


[1] A figura da bruxa como uma mulher, velha, feia, rabugenta e assustadora, foi introduzida a partir dos contos e histórias dos Irmãos Grümm (escritores alemães).

[2] A posição da Igreja é contraditória referente ao tema “caça às bruxas”. Existem documentos nos quais a Igreja pronunciava-se contra a tortura e assassinato destas vítimas, conduzidos pelas oligarquias locais.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Maria Flor- animação.

Uma pequena história em laranja e azul... 





terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Livro dos Abraços- Eduardo Galeano


“Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul. Aonde quer que eu vá, elas me perseguem. Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino. Não tenho nenhum deus. Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar a morte: ainda não. Falta muito o que andar. Existem luas para as quais ainda não lati e sois nos quais ainda não me incendiei. Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro. Em Montevidéu, existe um menino que explica: -Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre.”                              
Eduardo Galeano, in: O Livro dos Abraços

Rua das Tulipas


“O que pode ser feito quando já se fez de tudo?”
“O que fazemos quando os sonhos são grandes demais?”



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Morte e Vida Severina - desenho animado


Arte, para quem ama arte