O primeiro canto

segunda-feira, 23 de abril de 2018
quarta-feira, 14 de março de 2018
Uma lição de feminismo dada por Stephen Hawking
Em março de 2017 - uma boa lembrança de alguém que pensava e faz pensar.
Qual é a pior coisa que se pode fazer a um adulto
armado em bully? Fazer-lhe frente e ridicularizá-lo em público, sem margem para
ripostar, está certamente no topo da lista pedagógica (chamemos-lhe assim).
Esta semana, o Professor Stephen Hawking deu uma bela lição sobre igualdade de
género a Piers Morgan, o apresentador do programa Good Morning Britain que tem
sido alvo de duras críticas pelos seus consecutivos comentários sexistas. Desta
vez, o tiro saiu-lhe pela culatra.
Ridicularizar as mulheres – ou melhor, as pessoas -
que se assumem como feministas recorrendo a insultos como as expressões
“feminazis” ou “mulheres raivosas” tem sido a posição de Piers, que ainda no
início deste ano considerou a Marcha das Mulheres “um evento totalmente
absurdo”. Para vincar a sua opinião, decidiu gozar com aquela gigante
manifestação mundial pela igualdade de género, com mais de 100 tweets jocosos
partilhados ao longo do dia 21 de janeiro. Na recente conversa com Hawking,
Morgan decidiu puxar o tema alegando que, se olharmos para a ascensão política
feminina no Reino Unido (com Theresa May como primeira ministra do Reino Unido
e Nicola Sturgeon como primeira ministra da Escócia, por exemplo), finalmente
“estamos a ter provas científicas” relacionadas com a igualdade de capacidades
entre homens e mulheres. A resposta dada por Hawking a este comentário é tudo
de bom.
“Não é uma prova científica sobre a igualdade de
género que é necessária, mas sim a aceitação geral de que as mulheres são pelo
menos iguais aos homens, ou melhores que eles”. Clara, curta e concisa, esta
mensagem disse tudo. Contudo, o Professor foi ainda mais longe nesta verdadeira
lição de civismo dada a Morgan e a todos os que seguem a sua redutora linha de
pensamento. "Se considerarmos as mulheres de alta potência, como Angela
Merkel, parece que estamos a assistir a uma mudança sísmica para as mulheres
acederem a posições de alto nível na política e na sociedade", explicou
Stephen Hawking, aproveitando para reforçar o que muita gente continua a não
querer ver. “Mas ainda há um fosso grande entre aquelas mulheres que alcançam
um alto status público e aquelas no setor privado. Congratulo-me com estes
sinais de libertação das mulheres.”
“O
Professor é feminista?”. Resposta: “Sim”.
Particularmente quando entrevista mulheres, Piers
Morgan tem uma tendência clara para interrompê-las nas suas respostas quando o
tema é igualdade de direitos e de oportunidades entre géneros (espreitem por
exemplo os vídeos do programa feitos sobre a sessão fotográfica de Emma Waston
para a Vanity Fair ou a entrevista a Sophie Walker, líder do Women's Equality
Party). Mas com Stephen Hawking à frente, parece que lhe faltou o habitual à
vontade para interromper entrevistados ou ridicularizar o tema do feminismo. Em
tom de fim de tópico, ficou outra questão chave: “O Professor é feminista?”. E
a resposta: “Sim. Sempre apoiei os direitos das mulheres. Fui eu que mudei o
sistema de admissão de mulheres na minha faculdade, Gonville & Caius
College, Cambridge. Os resultados foram totalmente positivos.”
Em poucos segundos, Stephen Hawking deu uma lição a
todos os que não percebem a importância do feminismo ou que, por preguiça ou
ignorância, não entendem sequer o significado da palavra e o que ela defende.
Ser feminista não é querer a supremacia feminina sobre os homens. Não é uma
competição, nem tampouco uma apologia à redução de direitos do universo
masculino. É, sim, perceber que no mundo existe uma disparidade clara entre
homens e mulheres no que toca a direitos universais, a poder de decisão e a
acesso a oportunidades, por exemplo. É, como diria Stephen Hawking, aceitar de
uma vez por todas que não é o género com que nascemos que nos define enquanto
pessoas, seja nas nossas capacidades, seja nos nossos papéis em sociedade. E
que é urgente que esse fosso de igualdade entre homens e mulheres seja
reduzido. Porque uma sociedade mais par é uma sociedade mais justa, mais livre,
mais digna, mais equilibrada e, é claro, também mais competitiva. E todos –
todos! – temos a ganhar com isso.
Se tiverem um bocadinho espreitem a entrevista
completa. Desde a igualdade de género à presidência Trump, vale sempre a pena
ouvir o que Stephen Hawking tem para dizer sobre o estado do mundo.
Disponível em:
sábado, 3 de março de 2018
Leveza
Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.
E a cascata aérea
de sua garaganta,
mais leve.
E o que se lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.
Cecília Meireles
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Política e esporte
Por
Walter Casagrande
Vivemos tempos estranhos. Comemora-se
a intervenção das Forças Armadas no Rio como se fosse uma solução eficaz e
esquece-se de todas as últimas vezes (e não foram poucas nesta década) que
blindados andaram pelas ruas e vielas da cidade e em nada resolveram a questão
da criminalidade. Um extrato privilegiado da população bate no peito sem
constrangimento algum para apoiar um defensor da ditadura (sem falar nas
posições do mesmo sobre mulheres e homossexuais) que figura entre os favoritos
na corrida presidencial. Pior, banqueiros o aplaudem de pé. O que fazer?
Lamentar é a solução mais óbvia.
Prefiro enfrentar com diálogo. Afinal, esta é a grande conquista da democracia.
Foi por isso, para ter liberdade de pensar, falar, vestir-se como quiser, de
ter o partido político que preferir e defender as bandeiras em que acreditar
que lutamos durante 21 anos. Todas essas manifestações, desde que feitas dentro
da lei, com respeito e valores, fazem parte de uma democracia madura.
Daí a importância do esporte como
palco, sim, de discussões políticas. Por que os atletas deveriam se abster? A
democracia dá o direito a donas de casa, cabeleireiros, taxistas,
apresentadores de televisão e também a atletas profissionais de se manifestarem
politicamente. Faz parte do jogo.
Recentemente, recebi críticas e
elogios por uma coluna publicada aqui na GQ sobre o apoio de jogadores de
clubes paulistas ao mesmo candidato que cito no início deste texto. Os críticos
me acusaram de tentar censurá-los. Não era isso. A minha posição foi apenas de
cobrar responsabilidade dos atletas, para que fossem claros na defesa de seus
ideais políticos. Assim como, na maioria das vezes, o são quando o assunto é
religião.
É preciso valorizar o palco que o
esporte oferece. Foi isso que Tommie Smith e John Carlos, ao repetir o gesto
consagrado pelos Panteras Negras, fizeram durante os Jogos Olímpicos do México,
em 1968, ao mostrar o quão urgente era a discussão sobre o racismo. Muhammad
Ali, o maior boxeador de todos os tempos, negou-se a combater no Vietnã
justamente por saber o valor que a decisão de um ídolo do esporte teria em
torno do debate da guerra. Mais recentemente, atletas da NBA demostraram grande
insatisfação com o governo de Donald Trump. Jogadores de futebol americano foram
na mesma linha e muitos passaram a se ajoelhar durante a execução do hino
nacional.
Por aqui, lembro sempre da Democracia
Corinthiana. Sim, porque junto com Sócrates, meu grande parceiro, participei
dela, e isso me enche de orgulho, mas mais ainda por acreditar que fomos peça
importante para aumentar o coro que exigia o retorno da democracia. Eu tenho
orgulho de ter participado, em 1979, de um show a favor da anistia dos presos
políticos. Também me orgulho de, em 1982, ter feito um show para pedir a redemocratização
do país. Eu tenho orgulho de ter participado do movimento das Diretas Já. E
tudo isso enquanto era atleta profissional, jogador do Corinthians. Por que
hoje eu não poderia fazer isso? Quem proíbe o jogador de participar disso está,
indiretamente, apoiando ideias reacionárias.
E o caminho é inverso. Em um momento
tão polarizado, extravasar isso é essencial. Só com o diálogo chegaremos a
algum lugar. Espero que o esporte em geral continue exercendo sua função de
servir de palco para ampliar as grandes discussões de um país, do mundo, para
além da diversão.
Viva a democracia!
sábado, 24 de fevereiro de 2018
The fish and I - Babak Habibifar
De uma simplicidade emocionante. Incrível como esse curta nos silencia.
Assinar:
Postagens (Atom)