Tão lindinho...
O primeiro canto

quinta-feira, 8 de agosto de 2013
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Mistério- Florbela Espanca
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.
Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.
Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…
Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!
Florbela Espanca
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Maiakóvski
O barco do amor quebrou-se contra a vida cotidiana.
Estou quite
com a vida.
É inútil passar em revista as dores, os infortúnios e os erros
recíprocos.
Sejam felizes”.
Maiakóvski
terça-feira, 7 de agosto de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
Cântico negro- José Régio
Uma poesia do luso José Régio. Palavras
cheias. Intensas! Ainda mais num mundo onde as pessoas pensam que os
elogios e as palavras "mansas" encantam.
Cântico negro
José Régio
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro
escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como,
pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah,
que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Viejo
Outono, antes do anoitecer do dia 13
Viejo, como andas?
Escrevo rápido e sem escolher bem as
palavras. Escuto mais uma vez o Einaudi, do disco que tu esquecestes. Penso que
irias gostar deste tempo. Estou aqui na varanda, vejo a tua árvore. Da última
vez que a vistes, era primavera. Ela está linda, emoldurada com o adeus do dia.
Sei que a distância é grande, mas sinto
tanto a tua presença. Hoje, uma vez mais, li a tua carta. Capaz de pensar que
ando a arquivar na alma cada palavra. Não te rias...
Acreditas que a cada leitura, e olha que
passa de algumas dúzias, encontro novos sentidos para as palavras que já andam
a envelhecer? Pois, se digo isto, faço o uso da verdade. Sinto muito não ter respondido com a urgência
solicitada, mas o tempo por aqui anda mais curto que no restante doutros
lugares.
Gostaria tanto de ter contigo ainda nesta
estação, apesar disso, parece que esse desejo é coisa para mais um par de
tempo. E não te atrevas a dizer que é por minha culpa. Sabes muito bem do meu desejo
de ver-te, mas as pernas são curtas e ainda não surgiu nenhum 'gênio' da lâmpada.
Sei que sou, muitas vezes, inflexível com
minhas ações. E sei, ainda mais, que não consegues compreender a todas. Reconheço
que não sou pessoa de fácil entendimento. No entanto, importante que saibas: amo-o
muito, muito. Nos últimos tempos, esse amor, nutrido pela saudade, cresce. Sei bem, quando estamos juntos, nosso convívio não é fácil. Contudo, temos lá nossos momentos
de ternura. Leveza...
Imagino que agora deves rir das minhas afloradas
sensibilidades. Não importa, só por hoje, vou ignorar.
A verdade é que ando muito cansada. É
tanto a ser feito, e a penúria de tempo, recurso, a rondar como fantasma. Mas
como tu diz: uma coisa por tempo.
Vá saber por que escrevo estas palavras
pintadas de emoção. Talvez a poesia sirva-me como defensora e tal qual o poeta,
posso dizer que a lua, o conhaque, botam a gente comovido como o diabo.
Lembro-me, nesta hora, do teu sorriso. Da
tua cara amuada quando bombardeio as tuas ideias. Até disso sinto falta. Oh...
Ah, quase esquecia. Encontrei o livro
que te prometi. Mando junto com essas palavras. Não te ofendas, mas destaquei
umas linhas que encontrei no meio das páginas. Deixo-te como despedida. E não
te esqueças, espero vê-lo em breve. Aguardo a tua companhia por estes campos.
Mando também uma música do Einaudi, a que escuto agora.
Um abraço, meu amigo querido. Meu pai. Meu Viejo.
“Estes são os alicerces da nossa razão e
da nossa força, este é o muro por trás do qual nos foi possível defender, até
aos dias de hoje, quer a nossa identidade quer a nossa autonomia. Assim temos
continuado. E assim continuaríamos se novas reflexões não nos viessem apontar a
necessidade de novos caminhos” Saramago- Todos os Nomes.
Assinar:
Postagens (Atom)