O primeiro canto

O primeiro canto

sábado, 8 de dezembro de 2018

A fragilidade humana em “Varðeldur” do Sigur Rós



A Verdade do Poeta

[...]


Sonhar é fazer sorrir
A lágrima mais dolorosa
E os pesadelos, despir
Para depois os vestir
De mil sonhos cor-de-rosa
É fazer o sol brilhar
Na noite mais tenebrosa
Por a tristeza a cantar
E devolver ao olhar
Aquela luz preciosa
É roubar ao pôr-do-sol
Um raio de luz derradeiro
E fazer dele um farol
Que ilumine o mundo inteiro.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

"...de la primavera invencible"


A TODOS, a vosotros,
los silenciosos seres de la noche
que tomaron mi mano en las tinieblas, a vosotros,
lámparas
de la luz inmortal, líneas de estrella,
pan de las vidas, hermanos secretos,
a todos, a vosotros,
digo: no hay gracias,
nada podrá llenar las copas
de la pureza,
nada puede
contener todo el sol en las banderas
de la primavera invencible,
como vuestras calladas dignidades.
Solamente
pienso
que he sido tal vez digno de tanta
sencillez, de flor tan pura,
que tal vez soy vosotros, eso mismo,
esa miga de tierra, harina y canto,
ese amasijo natural que sabe
de dónde sale y dónde pertenece.
No soy una campana de tan lejos,
ni un cristal enterrado tan profundo
que tú no puedas descifrar, soy sólo
pueblo, puerta escondida, pan oscuro,
y cuando me recibes, te recibes
a ti mismo, a ese huésped
tantas veces golpeado
y tantas veces
renacido.
A todo, a todos,
a cuantos no conozco, a cuantos nunca
oyeron este nombre, a los que viven
a lo largo de nuestros largos ríos,
al pie de los volcanes, a la sombra
sulfúrica del cobre, a pescadores y labriegos,
a indios azules en la orilla
de lagos centelleantes como vidrios,
al zapatero que a esta hora interroga
clavando el cuero con antiguas manos,
a ti, al que sin saberlo me ha esperado,
yo pertenezco y reconozco y canto.

Pablo Neruda 

Música árabe, com o alaúde do iraquiano Naseer Shamma



terça-feira, 4 de dezembro de 2018

...

Anton Semenov
“Não existe desespero tão absoluto quanto aquele que surge nos primeiros momentos de nosso primeiro grande sofrimento, quando não conhecemos ainda o que é ter sofrido e ser curado, ter se desesperado e recuperado a esperança.” George Eliot

Tresloucada Firmina

Anton Semenov 

Firmina andava mal naquela manhã de primavera. De um lado a outro, passeava com seu contaminado espírito. Não sabia em absoluto o diagnóstico do mal que a afligia.
Diziam que respirara a fala de um moribundo e agora padecia de enigmática enfermidade. No entanto, sentia-se melhor quando bebia romantismo alemão, mas os ingleses também consolavam sua vida.
Alguém recomendou qualquer leitura que abarcasse o existencialismo. Doses fortes, todos os dias. Mas a louca já bebia da existência... De Profundis.
Nalguns momentos, a mulher tentava escrever. Contudo, desaguar incoerências pelas pontas dos dedos, não era lugar de queda - apesar do desejo.
Desabava, isso sim, por horas, na leitura da vida de personagens com alma - literatura, vício demoníaco, que abraçava seu corpo como um câncer. A criatura também passava seus dias lembrando-se de pessoas, momentos vividos... .
Parecia um fantasma, a vaguear ausência de coesão e excesso de denotação. Falando alto, chorando silêncios. Calando o que precisava ser dito. Pensando nas palavras ouvidas, ou omitidas  - sintomas de um peito corrompido, uma mente doente.
Tresloucada Firmina, pensava que a finitude era a dor mais poderosa. Pobre criatura, a viver no inferno nostálgico da existência. Desejando o impossível. Sentindo paixões nunca correspondidas. Insistindo num caminho de frustrações...
Escrava do crepúsculo, maldição!